Por razões de absoluta falta de tempo a produção no blogue tem-se quase limitado "à crise dos combustíveis". Quase passava sem uma referência , por esta razão, o excelente texto de Daniel Sampaio na Pública do passado Domingo dedicado ao Inspector. Cito:
"O excesso de zelo e o controlo burocrático e rígido são inimigos do progresso. Nunca poderemos esquecer que toda a acção ética só se concretiza em liberdade e que nem tudo o que pode ser considerado imoral ou desadequado deve ser ilegal. A educação de um povo pode mesmo deduzir-se pela capacidade que têm os seus cidadãos de decidir por si mesmos, de forma correcta e sem serem coagidos a cumprirem parâmetros impostos: para isso, precisamos ser livres, e a liberdade (que não existia antes do 25 de Abril, convém sempre lembrá-lo) é a mais importante conquista dos povos. É evidente que não podemos fazer tudo o que desejamos e, se achamos que algumas acções não são correctas, a resposta adequada deverá ser não as praticarmos.
São este valores que tornam o conhecido Inspector uma pessoa que não aprecio. (...) O problema é quando a rigidez e a intolerância fiscalizadora tomam o primeiro plano e se perseguem pequenos comerciantes ou modestos vendedores que não faziam mal a ninguém.(...) O Inspector parece possuído de uma febre controladora: a sua tentativa de desculpa perante denúncias de que a sua organização fixava objectivos e sanções antes das inspecções não convenceu ninguém; e depressa foi esquecida perante novas fúrias persecutórias, animadas por certo pelo desejo de bem servir que caracteriza o nosso protagonista.
O Inspector ainda não percebeu que trabalhar bem deveria ser sinónimo de respeitar as diferenças, ou esquece que o exemplo é mais pedagógico do que muitas multas. Pela minha parte, não sigo os seus métodos, por isso não o condeno já: inspeccione-se e aplique-se coima, se for caso disso."


 

Pedra do Homem, 2007



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