... cobarde, porque transforma as vitímas das políticas públicas de habitação e de urbanismo nos culpados das consequências dessas políiticas.
Os poderes políticos que tomam estas medidas acham que os cerca de 300 mil lisboetas que foram viver para Sintra, na mega-urbanização em que o concelho se tornou, fizeram uma opção no quadro da liberdade de escolha, face a um conjunto de alternativas entre as quais se podia considerar: opção por comprar casa em Lisboa a preço compatível com o nível de rendimentos; opção por arrendar casa em Lisboa a um preço compatível com o nível de rendimentos; opção por comprar ou arrendar casa em zona servida por transportes públicos eficazes a um preço compatível com o rendimento familiar. Como se sabe estes cenários não existem.
Essas pessoas foram expulsas da cidade como consequência das objectivas opções de política pública de sucessivos governos. Acontece, uma pequena chatice, que a cidade necessita dessas pessoas para lá trabalharem todos os dias. Foi por isto que Krier escreveu que o "o zonamento do movimento modeno tornou a vida nas cidades insuportavelmente dispendiosa em tempo de transporte" comparando os movimentos pendulares de entrada e saída das cidades ao bombardeamento diário da cidade pelos subúrbios. Nada descreve melhor o que se passa em Lisboa. O zonamento e a falta de coragem e de seriedade políticas para promover políticas públicas fundiárias que ponham cobro ao controlo do desenvolvimento urbano pela trela dos interesses dos promotores privados.
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