Por volta das 15 horas quando viajava para Lisboa no meu carro escutei na Antena Um declarações do deputado comunista António Filpe que afirmava estar o processo eleitoral em Angola a decorrer com normalidade.
Com normalidade? A essa hora várias secções de voto permaneciam fechadas e os eleitores saturados procuravam uma "urnazita" onde pudessem votar. Ao final do dia soubemos que um número grande de secções nunca abriu. António Filipe viu a coisa pelos mesmos olhos do Presidente da CNE Angolana que, pasme-se, admitia a possibilidade de prolongar a votação até às calendas enquanto ainda existisse um angolano com vontade de votar. Saliento que o senhor não declarou "um angolano com vontade de votar no MPA".
Como é possível que um Governo poderoso, que integra algumas das pessoas mais ricas do mundo, e um País que é uma potência económica, cujo partido no poder gastou fortunas em propaganda do tipo "last cry" não consiga organizar umas eleições minimamente decentes? Não falo já de livres e justas, que isso é uma utopia nos tempos que passam, e não falo sequer dos actos de censura aos orgãos de comunicação social portugueses que contam naturalmente com a subserviência dos nossos governantes. Falo tão somente de secções de voto a abrirem a horas decentes com representantes de todas as forças políticas e cadernos eleitorais credíveis.
Ó António Filipe e se em vez dos camaradas do MPA fosse a rapaziada de cá a atrasar a abertura das urnas lá do bairro e a montar um esquema assim o que é que viria dizer o PCP?


 

Pedra do Homem, 2007



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