Concordo com este post do Pedro Sales sobre a situação das "casinhas" de Lisboa. Só não percebo duas coisas: 1) porque razão ele se refere apenas aos jovens que gostariam de viver na Cidade. Os cidadãos que foram expulsos - prefiro sempre esta formulação - da cidade ou impedidos de lá habitarem, são jovens e menos jovens, no essencial são trabalhadores que todos os dias necessitam de se deslocar para a cidade para aí trabalharem. Que têm o direito de viver na cidade e de aí encontrarem uma habitação para arrendarem ou adquirirem a um preço compatível com o seu rendimento disponível. São todos os que consomem horas em filas, logo pela manhã e ao final do dia, num ritual massacrante que levou Léon Krier a afirmar, com rigor, que o urbanismo do movimento moderno transformou a vida nas cidades em algo insuportavelmente dispendioso em tempo de transporte; 2) Como é que o Pedro Sales chegou à conclusão que as 3200 casas em questão eram "o principal instrumento de que dispunha[ a câmara] para influenciar os preços do mercado e para chamar jovens em início de carreira, efectivamente necessitados de rendas controladas, para o centro da cidade".
Durante estes 30 anos em que sucessivas gestões camarárias - entre as quais todas as de esquerda - esvaziaram a cidade para níveis insustentáveis, como os actuais, existiram milhentas oportunidades para promover políticas públicas de habitação que escapassem à perversa dicotomia mercado-versus- habitação social (mais uns pozinhos dos custos controlados). Há muita gente que hoje fica de fora da habitação a custos controlados porque o seu nível derendimentos nãolhe permite aí chegar. Quem não conhece autarquias que com a simples introdução da obrigatoriedade de aquisição de uma garagem descontrolaram de tal maneira os preços ditos de custos controlados que orientaram as casas para os seus amigos, primos e familiares? E a venda do património do Estado existente na cidade de Lisboa que ainda agora decorre alegremente? E a venda do património do Estado que se fez ao longo de décadas ? E muitas outras iniciativas que permitissem quebrar este círculo vicioso em que o desenvolvimento urbano se faz a reboque dos interesses dos poderosos promotores imobiliários e contra os cidadãos. Um desenvolvimento urbano em que os cidadãos são encarados como consumidores e a cidade entendida como um produto.
Etiquetas: Lisboa.Política das Cidades