Agora que com as alterações climáticas se sabe que um cada vez maior número de espécies desapareceu ou está em vias de desaparecer não deixa de ser reconfortante descobrir que em Portugal, por uma razão exógena é certo, a crise do capitalismo internacional - será que se pode chamar assim à crise dos mercados financeiros internacionais? - são cada vez mais aqueles que utilizam o seu lugar no espaço público para proclamarem coisas do estilo " eu sempre achei que o mercado auto-regulado não funcionava", aplaudindo as sucessivas intervenções dos Estados para salvar as empresas bancárias e seguradoras.
Entre estes há depois várias sub-espécies o que remete para um enorme potencial desta nova espécie e para a infindável capacidade de renovação da espécie humana. Existem os que sempre acharam que o mercado não funcionava sem a acção reguladora do Estado mas que, no entanto, como desde pequeninos sempre acharam, em simultâneo, que o Estado é a pior coisa à face da terra optaram por não dizer nada a ninguém , nem aos familiares mais chegados, com receio das consequências das suas palavras. Existem depois os outros que sempre proclamaram a sua fé inabalável na mão invisível mas que, lá no fundo, muito lá no fundo, como confessaram a uma tia surda que já morreu e que se interessava muito pelas questões económicas e até era de esquerda, calcule-se, sentiam sempre uma nostalgia pela falta de intervenção reguladora do Estado, mas não sabiam bem em que sentido ia acontecer essa intervenção. Esses respiram agora de alívio estando claro que o Estado intervêm para socializar os prejuízos tendo-se abstido antes de intervir para socializar a riqueza produzida. Identificam-se com um Estado assim e se isso for o socialismo não receiam que lhes chamem socialistas.
Existem depois os outros que por puro narcisismo batem palmas à intervenção dos Estados porque percebem que essa intervenção é a expressão de que o Estado que construiram está preparado para intervir sempre que os interesses dos mais poderosos estiverem em causa. Tal como sempre sonharam. São narcisos mas não de carácter contemplativo aproximando-se das prácticas onanistas, tão habituados que estão a meterem as mãos nos bolsos da rapaziada.


 

Pedra do Homem, 2007



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