"José Sócrates lamenta “oportunismo político” da oposição na avaliação dos professores".
José Sócrates, manifestamente perturbado pela dimensão da manifestação dos professores, responde à canelada numa reunião interna do partido. E que diz ele? Fala da necessidade de respeitar o direito dos professores amanifestarem-se? Fala do direito dos professores a não concordarem com o modelo de avaliação proposto pelo seu Governo? Fala da necessidade de o seu Governo reavalair melhor o modelo proposto face à tão evidente oposição da classe?
Não!!! Sócrates acha que o Governo tem razão e que os professores não são mais do que umas dezenas de milhares de corporativos aos quais a oposição se cola de forma oportunista. Sócrates acha, como a ministra aliás, que os professores são manipulados pelos sindicatos e agem contra o interesse nacional, recusando a avaliação e em defesa das promoções automáticas.
Sócrates sabe que tudo aquilo que diz não corresponde à verdade. Sabe que os professores estão unidos contra um projecto estúpido, injusto, incompetente e inaplicável que lhes inferniza a vida sem qualquer melhoria, antes pelo contrário, da qualidade do ensino. Sabe que nem nos seus melhores e mais optimistas sonhos os sindicatos admitiriam conseguir este nível de mobilização. Sabe que os professores que se manifestaram muitos deles, largas dezenas de milhares, são militantes, simpatizantes e em muitos casos votantes do partido socialista que se manifestam por convicção. Sentem-se mal tratados, injustiçados, percebem que este modelo os penaliza e degrada a qualidade do ensino e a vida nas escolas.
Então porque continua Sócrates com este discurso e esta práctica que tantos estragos faz no bloco social que o elegeu em 2005?
A explicação são duas: Sócrates acha que entre o que perde por hostilizar toda uma classe e o que ganha com esta imagem de inflexibilidade, de resistência aos "interesses" -todos menos os do sector financeiro ou da energia - resulta um saldo positivo para o Governo; Sócrates desistiu há muito de pretender cativar muitos dos que nele votaram em 2005, apostando na maioria pela expansão à direita e é nesse sentido a sua aposta. O seu discurso ewm Coimbra não era dirigido aos figurantes que preenchiam a sala mas às orelhas atentas daqueles que em 2009 poderão ser os "neosocialistas" - usando a expressão de Paulo Rangel - e que em 2005 votaram PSD.


 

Pedra do Homem, 2007



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