Paulo Gorjão, escreve sobre as pensões de miséria de grande parte dos portugueses para peguntar como é possível que "Governo após governo, se perpetue esta situação em Portugal?" PG conclui que "Não tratamos bem os nossos velhotes e o pior é que não temos absolutamente nenhuma vergonha na cara".
A reflexão foi suscitada por uma ida aos corrreios num período em que parte da população mais envelhecida e mais pobre aí se desloca para receber as pensões de reforma que se situam em grande parte abaixo dos 300 euros.
Esta discussão devia estar permanentemente na ordem do dia e só a nossa falta de vergonha colectiva permite que os sucessivos Governos remetam a questão para o canto esquecido da agenda política.
Ciclicamente a propósito de algum relatório internacional ou da publicação de um trabalho de investigação de algum académico ou grupo de académicos a imprensa traz o assunto à tona durante dois ou três dias. mas, depois, volta o silêncio.
Para piorar a situação esta matéria tão sensível que aconselharia ao pudor na forma como a ela se referem permite aos políticos populistas bons momentos de propaganda. Propaganda à custa da miséria dos outros em regra, logo esquecida quando chegam ao poder.
A questão não é a de saber se os idosos tem ou não direito em função das respectivas carreiras contributivas. A questão é de outra natureza. é a de saber se cada cidadão independentemente do que fez ou não fez tem ou não sempre o direito a um mínimo de dignidade humana e à solidariedade dos seus concidadãos. E se o Estado tem meios para concretizar essa solidariedade que levaria a que hoje ninguém pudesse receber menos do que o ordenado mínimo nacional, como aliás propõe o PG, por qualquer forma de pensão.
Eu estou certo que tem esses meios e estou igualmente certo que o Estado pode, sem aumentar a despesa global nem aumentar o endividamento externo do País, efectuar esse aumento. Como? De muitas maneiras mas insisto não aumentando as despesas do Estado, optando por redistribuí-las. E nas despesas integro mesmo as de investimento porque estou certo que nenhum Governo pode investir um euro melhor investido do que a melhorar a qualidade de vida dos seus idosos actuais e futuros. Até porque é a "falta de vergonha" dos sucessivos Governos que coloca o problema da redistribuição da riqueza - é disso que estamos a falar - no ponto calmitoso em que ele está hoje. É essa falta de vergonha que leva alguns a discutir como um crime de lesa pátria aumentar o salário mínimo nacional em 30 ou 40 euros e outros a gabarem-se de terem atribuído o rendimento solidário a alguma dezenas de milhares . Enquanto não houver respeito pelos idosos e solidariedade efectiva da sociedade no seu conjunto tiranetes e demagogos têm uma terra farta para lavrarem.


 

Pedra do Homem, 2007



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