"Congresso: PCP é caso único de influência na Europa"
a propósito do congresso do PCP e da influência que o partido ainda mantem na sociedade portuguesa - que, aliás, está numa fase de alargamento como demonstram todas as sondagens - o Público escutou opiniões de Pacheco Pereira, André Freire e do comunista Ruben de Carvalho. Chamou-me a atenção a explicação do intelectual comunista para a manutenção da influência do partido comunista na sociedade portuguesa. Diz Ruben que "as pessoas sabem que o PCP faz o que diz tem um desempenho nos cargos públicos e nas autarquias que fala por si".
Não me parece uma explicação adequada e sequer próxima da realidade. Na autarquias o PCP mostra a mesma série de vulnerabilidades dos restantes partidos.
Se existe um problema nas autarquias portuguesas associado à promiscuidade entre os autarcas e os interesses do sector imobiliário - e ele existe na realidade - as autarquias do PCP não são excepção. Claro que as autarquias do interior, com gestão da CDU, são menos susceptíveis a essas influências, tal como as do PS ou do PSD, mas no Litoral quem escolhe a música que se toca é o "promotor do regime" e nas autarquias CDU isso não é, antes pelo contrário, menos evidente.
Se essa promiscuidade é determinada pela necessidade de financiamento partidário ou pelo enriquecimento ilícito de alguns dos agentes políticos, pode-se dizer, sem correr riscos de errar, que existem a duas situações tal como nos restantes partidos com expressão relevante na área autárquica.
Se existe um problema de incompetência populista na gestão municipal com enfâse no endividamento municipal e no incumprimento nos pagamentos aos fornecedores, e numa priorização dos investimentos de mérito duvidoso, as autarquias comunistas não são excepção. Nalguns casos paradoxalmente isso acontece inclusivé em autarquias em que o nível de receitas é muito elevado o que torna ainda mais inaceitável o endividamento brutal.
Se existe um problema de falta de transparência e de democracia nas autarquias portuguesas, com negação dos direitos das oposições e a promoção de um poder absoluto centrado na figura do Presidente da Câmara, com o esmagamento de qualquer vislumbre de assoiativismo minimamente independente - e esse problema existe - as autarquias comunistas não são excepção e nesta matéria têm mesmo "créditos firmados", digamos assim.
Ruben de Carvalho sabe de tudo isto mas como a ocasião é festiva resolveu simplificar.
Mas, voltando à questão central, apetece-me dizer: ainda bem que o PCP conserva a influência que tem na sociedade portuguesa.


 

Pedra do Homem, 2007



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