"Mário Lino diz que Sócrates foi envolvido num processo "com fins políticos".
Mário Lino pede meças a qualquer um quando se trata de boçalizar. Imaginem o que o célebre inventor da famosa expressão "no deserto jamais" veio agora revelar ao mundo? Nada mais nada menos do que aquilo que move este processo, em que o primeiro-ministro aparece meio atolado lás para os lados de Alcochete: a política, essa actividade profana.
O ministro Mário Lino quando toma uma decisão como a de construir o aeroporto na OTA o que estará ele a fazer além de política? E quando diz e desdiz a mesma coisa em dias sucessivos o que será isso além de política? E se o juíz que primeiro tratou do caso Freeport questiona a invulgar celeridade do caso isso será política, senhor ministro Lino? Ou estaremos apenas persnte o direito de alguém a questionar algo que acha estranho num processo desta complexidade?
E nós a pensarmos que o engenheiro Sócrates era primeiro-ministro e que a sua actividade principal era ser político. E nós a pensarmos que o engenheiro Mário Lino era ministro e que a sua actividade principal era ser político. E nós a pensarmos que ambos exerciam essa actividade a tempo inteiro e em dedicação exclusiva.
Mas, afinal o que será o engº Mário Lino? Pastor das almas? Arqueólogo com uma invulgar propensão para o estudo dos desertos? E o engº Sócrates? Projectista independente com pouco jeito para a arquitectura? Facilitador de vida com vocação para grandes projectos?
Ambos parecem estar a ser afectados por uma manifesta dificuldade em compreender que numa democracia por mais que alguém tente fechar a tenaz aparecem sempre notícias inoportunas para os poderosos da ocasião que escapam à sua agenda e vão contra os seus interesses. Notícias que só "saem" quando todas as explicações são dadas.
Não é essa uma das qualidades principais das democracias, a existência de uma imprensa livre?


 

Pedra do Homem, 2007



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