Vinte e dois anos depois da sua morte, num triste dia 23 de Fevereiro, é bom escutar Zeca Afonso e as suas canções tão actuais. Em particular os Vampiros, agora que eles estão outra vez entre nós travestidos das mais benignas e variadas formas. Fica aqui a letra e o link para a interpretação desta canção no último espectáculo do Zeca.



No céu cinzento

Sob o astro mudo

Batendo as asas

Pela noite calada

Vem em bandos

Com pés veludo

Chupar o sangue

Fresco da manada

Se alguém se engana

Com seu ar sisudo

E lhes franqueia

As portas à chegada

Eles comem tudo

Eles comem tudo

Eles comem tudo

E não deixam nada


A toda a parte

Chegam os vampiros

Poisam nos prédios

Poisam nas calçadas

Trazem no ventre

Despojos antigos

Mas nada os prende

Às vidas acabadas

São os mordomos

Do universo todo

Senhores à força

Mandadores sem lei

Enchem as tulhas

Bebem vinho novo

Dançam a ronda

No pinhal do rei


Eles comem tudo

Eles comem tudo

Eles comem tudo

E não deixam nada


No chão do medo

Tombam os vencidos

Ouvem-se os gritos

Na noite abafada

Jazem nos fossos

Vítimas dum credo

E não se esgota

O sangue da manada

Se alguém se engana

Com seu ar sisudo

E lhes franqueia

As portas à chegada

Eles comem tudo

Eles comem tudo

Eles comem tudo

E não deixam nada

Eles comem tudo

Eles comem tudo

Eles comem tudo

E não deixam nada




 

Pedra do Homem, 2007



View My Stats