O artigo de opinião do jornalista António José Teixeira no Diário Económico. Cito: "Um empresário condenado por corrupção activa foi eleito presidente de uma empresa intermunicipal. O empresário chama-se Domingos Névoa e a empresa Braval. Trata dos resíduos sólidos de seis concelhos do Baixo Cávado, que engloba os municípios de Braga, Póvoa de Lanhoso, Amares, Vila Verde, Terras do Bouro e Vieira do Minho. Já nada nos parece indignar. As notícias mais improváveis costumam servir para provarmos a nós próprios que o mundo é, afinal, tão perverso como suspeitávamos e comprovámos há muito.(...)É verdade que a justiça que temos julgou bastante a multa de cinco mil euros para um crime comprovado de corrupção activa. E, quem sabe, um último recurso ainda poderá atenuar... Não será o primeiro nem o último. É verdade que o enriquecimento ilícito não é crime em Portugal. É verdade também que o presidente da Câmara de Braga viu arquivado um processo que se arrastou durante oito anos e em que se afloravam suspeitas de corrupção e tráfico de influências, ligações pouco claras a empreiteiros, nomeadamente à Bragaparques de Domingos Névoa. Se tudo isto é possível, porque não institucionalizar laços entre tão ilustres figuras? Se a justiça do Estado é tão branda e permissiva porque não recuperar para o serviço público gente tão hábil e empreendedora?(...)A nossa democracia está a mergulhar numa letargia alimentada pela indiferença, por compromissos espúrios, por chantagens discretas, por um estado de direito sem coluna vertebral, por decisões confusas para melhor serem inconsequentes, por uma cultura habituada a vergar-se à prepotência, por eleitos frouxos e eleitores pouco exigentes, por habilidosos confundidos com homens competentes, por sucessos com pés de barro, por maledicência gratuita e por silêncios desistentes. Só se quer mudar na condição de tudo ficar na mesma. Adoramos a modorra do ramerrão. Por tudo isto, Portugal está a tornar-se num imenso Braval."


 

Pedra do Homem, 2007



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