Sócrates defende reforço do subsídio social de desemprego e TGV para combater a crise
O título desta notícia salienta aquele que foi o maior fiasco da entrevista de Sócrates: a ausência de novas medidas adequadas para enfrentar a degradação da situação económica. O reforço do subsídio de desemprego é uma medida de impacto restrito a algumas dezenas de milhares de desempregados e o TGV é de outro campeonato e as suas consequências apenas se sentirão mais tarde, quando se espera que a crise já tenha passado. As explicações para esta ausência de medidas - havia muitas a tomar como por exemplo o reforço das pensões das camadas mais desfavorecidas, as medidas relativas ao crédito à habitação dos mais necessitados e para as PME´s a alteração das regras do IVA o fim imediato do Pagamento Especial por Conta, com contrapartidas do lado da manutenção do emprego, a alteração da Taxa Social Única para as empresas com uma maior imcorporação de mão de obra etc - radicam porventura na falta de rcursos disponíveis, embora o Governo não o assuma e continue a deitar dinheiro para alguns bancos.
Quanto ao mais a entrevista não foi grande coisa. Mas, há um aspecto que deve ser salientado: os jornalistas da RTP mostraram grande coragem, e independência, face ao clima de clara hostilidade que Sócrates adoptou. Na discussão sobre as relações com o Presidente da República, e sobretudo no caso Freeport, Sócrates foi duro e colocou uma pressão enorme sobre os jornalistas, em particular sobre Judite de Sousa. No caso das relações com o Presidente, Sócrates não foi convincente. Apesar de ter negado pensar da mesma maneira que António Vitorino, que acusara na véspera Cavaco Silva de colagem a Manuela Ferreira Leite - um momento de pura inversão da realidade por parte de Vitorino - ninguém acredita que as suas declarações nas Novas Fronteiras tinham outro alvo que não o Presidente da República. No caso Freeport foi igualmente duro mas convenhamos que alguém que se considera inocente e que está sujeito a um pressão desta dimensão não poderá deixar de manifestar a sua revolta e a sua indignação. Mas esteve bem em particular na cronologia do que se passou em 2004 e na relação que estabeleceu entre os momentos que antecederam a sua eleição no PS e no País e a estratégia política - é disso que estamos a falar, não é? - que utilizou o caso Freeport. Qualquer pessoa comprende o que o primeiro-ministro disse sobre o telejornal da TVI, sobretudo depois dos sucessivos episódios. Quem não diria a mesma coisa? Claro que com este clima não sobrou tempo para discutir o essencial: ora o essencial era, e é, saber porque razão um Governo de gestão toma decisões desta natureza e porque raio familiares seus se envolveram no processo, além de se conhecer o rasto do dinheiro. Sócrates ter-se-á disponibilizado já fora do estúdio para responder a todas as questões que as autoridades entendam por necesário. Se o fez esteve bem. Afinal o que esperam do primeiro-ministro? Que se declare culpado de crimes que ele entende não ter cometido?
A questão que fica é a de saber que utilidade teve esta entrevista além de permitir perceber que a crise não tem respostas adequadas por parte do Governo e que o caso Freeport é uma pressão sobre a acção governativa pouco menos que insuportável.


 

Pedra do Homem, 2007



View My Stats