Todos contra PS e PSD por terem recusado referendo ao Tratado de Lisboa
O debate correu muito bem. Claro que o tempo não chega para grandes considerações e cada partido tem que telegrafar as suas mensagens. Mas a forma como a coisa evoluiu ultrapassou as melhores expectativas. Toda a gente - falo sobretudo dos pequenos partidos que nunca são convidados a participar - teve tempo suficientee capacidade para deixar uma ideia daquilo que os mobiliza. Os melhores desempenhos - fora os cinco com representação europeia - foram os do PCTP-MRPP e do Partido Humanista, em particular este segundo que criticou de forma dura a evolução verificada na Europa.
O debate correu mais uma vez mal para Vital Moreira. Não é capaz de introduzir as questões europeias no debate e deixa-se resvalar para um papel de defensor oficial da linha do Governo que desemepnha muito mal, mostrando uma enorme falta de jeito. Pretende, e não consegue, criar uma pretensa linha de separação entre os liberais, representados pelo PSD e pelo PP, e os socialistas, representados pelo PS. Os primeiros teriam a seu cargo a responsabilidade pela desregulação dos sistemas financeiros internacionais que conduziram à presente crise. Aos socialistas caberia o mérito de serem desde sempre contra essa desregulamentação e de pugnarem por uma europa mais solidária em que os mercados fossem regulados pela intervenção do Estado. O problema é que Vital Moreira parece confundir aquilo que ele defendeu em teses académicas e livros ou artigos publicados com a realidade da intervenção política dos socialistas portugueses na condução do governo e na tomada dedecisões na união europeia. Infelizmente para Vital Moreira a linha que ele pretende traçar não existe e os cidadãos sabem-no cada vez mais. A paixão de Sócrates pela regulação e pela intervenção do Estado na economia é um paixão recente amadurecida à pressa sob a pressão dos efeitos da crise e da agenda eleitoral.
Quer Vital Moreira quer Paulo Rangel - teve o mais apagado desempenho desde o ínicio da campanha - não lidaram bem com a acusação generalizada de que PS e PSD tinham recusado o referendo porque não resepitam os compromissos políticos e porque temem a participação dos cidadãos na construção europeia.
Ilda Figueiredo mostrou-se segura e eficaz a defender as posições do seu partido. Reagiu bem à pergunta, inaceitável, de Paulo Rangel sobre a posição do PCP face a um hipotético referendo à Constituição de Abril.
Miguel Portas foi igualmente seguro a desmontar o discurso redutor de Vital Moreira de que aqueles que são contra o tratado são contra a Europa. Deixou claro que a questão central desta crise é a de sabermos como vamos responder aos desafios colocados pelo desemprego crescente e pelas dificuldades cada vez maiores sentiudas por um número crescente de europeus.
O candidato do PNR lá se foi portando de uma forma civilizada até que, já no final, teve que revelar que defendia a reversibilidade da emigração excessiva que, segundo ele, temos em Portugal. O eufemismo que encontrou para a pura e dura expulsão dos imigrantes revela imaginação e sofisticação para esconder a crueldade da intenção.
Apesar de cada um ter tido pouco tempo, foi um debate democrático que honrou a televisão pública. Ninguém foi excluído. É isso que se espera.


 

Pedra do Homem, 2007



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