Novas imagens do futuro Terreiro do Paço foram apresentadas hoje
A Câmara de Lisboa viu hoje ser-lhe apresentada pela Sociedade Frente do Tejo um projecto do que será o Terreiro do Paço se o projecto do arquitecto Bruno Soares vier a ser construído.
A Câmara de Lisboa, neste como noutros casos, gere a cidade e o seu património e tem a sorte de nessa cidade existirem espaços magníficos como o Terreiro do Paço. Mas a Câmara não sabe o que fazer com esta praça que é certamente a mais bonita e uma das maiores da Europa. O bom senso recomendaria que não sabendo o que fazer, fizesse uma de duas coisas: 1)organizasse um concurso público internacional de ideias para a intervenção na praça, que desse resposta às necessidades sentidas pela autarquia, isto é pelos seus cidadãos, e por todos aqueles que visitam a capital; 2) que nada fizesse optando, face á sua confessada e assumida ignorância ou incapacidade, por nada fazer, deixando a praça como está sujeita às normais obras de melhoramentos pontuais.
A Câmara não fez nada disso tendo, ao que se percebe, transferido para a dita sociedade a responsabilidade de elaborar um projecto. A sociedade, no uso dos seus altos poderes, escolheu o arquitecto Bruno Soares que apresenta agora este estudo, mas esclarecendo que,assinale-se, "embora o projecto ontem apresentado seja aquele que, em princípio, irá por diante, ele poderá vir incorporar sugestões ou alterações sugeridas por todos aqueles que quiserem participar neste debate". Que grande abertura, que grande lição de democracia e de promoção da participação das populações! Podem até sugerir alterações todos aqueles que quiserem participar no debate. Ena pá. Faz-me lembrar o despotismo iluminado de alguns que não receiam o debate democrático desde que no fim façam sempre o que eles querem. Se isto é com a nossa mais emblemática praça o que não será com um qualquer jardinzito ou bairro?
Talvez seja esta a forma como a Câmara de Lisboa, liderada por um presidente socialista, se quer posicionar para a comemoração dos 100 anos da República: dando uma ideia caricatural da importância da participação democrática das populações nas decisões sobre o futuro da cidade.
Fora estes aspectos de fundo o que mais me desagrada é quase tudo o resto. Choca-me a ideia de mudar o aspecto geral da praça e de essa mudança estar a ser feita ao abrigo de uma ideia única, de um projecto providencial. Choca-me a geometria e os materiais escolhidos, com a justificação de uma suposta luminosidade excessiva, e a ideia da passadeira central a afunilar e a dirigir a visão da praça e a canalizar os peões por esse corredor.
Não vejo grande futuro à ideia e, em Lisboa, com a opinião pública e a sua força, julgo que a Câmara vai ter que abrir o debate e vai ter que recuar, colocando as intervenções a fazer em aberto. Abertas à criatividade e engenho de quem quiser participar e sujeitas ao debate público e ao controlo democrático dos cidadãos. Sujeitas à decisão,possível se os cidadãos assim o decidirem, de que mais vale deixar as coisas como estão ou muito perto disso.


 

Pedra do Homem, 2007



View My Stats