Agência Portuguesa do Ambiente responsabiliza Repsol por contaminação do solo e da água
Esta notícia tem uma novidade: segundo o Secretário de Estado do Ambiente o culpado da contaminação do solo e da água é a Repsol. Então, podemos concluir, existe contaminação do solo e da água e se existe contaminação ela não deveria existir, ainda que os níveis se situem abaixo dos valores máximos. E como será consumirmos regularmente água com poluentes -hidrocarbonetos - próximo dos valores limites, ou acima dos padrões considerados óptimos para consumo humano?
A responsabilidade desta tomada de posição do Secretário de Estado, que disse aquilo que disse, a julgar pelo que se passou esta noite na Assembleia Municipal de Sines, podia levá-lo a ser acusado de alarmista e oportunista pelo actual Presidente da Câmara, por ter dito o que disse. A tese do autarca é a de que ele está a fazer o que tem que ser feito. De acordo com o método cientifico, contratando os melhores especialistas, fazendo estudos detalhados etc,etc. Tudo ao contrário da força política a que ele sempre esteve ligado, a CDU, que faz comunicados, coisa feia, isso não se faz, convoca reuniões extraordinárias da Assembleia Municipal, tudo para o chatear com esta coisa da água por meras ambições eleitorais.
Mas esta notícia traz uma repetição, que são aliás duas: No actual estado de conhecimento sobre o sistema não podemos com rigor afirmar que sabemos o que se está a passar e não sabemos quem está a poluir o quê. Sabemos que a REpsol está a poluir os solos e os aquíferos. E quem mais está a poluí-los? E qual o seu grau de poluição?
Por outro lado, e esta é a segunda repetição, não se vislumbra nenhuma estratégia que permita corrijir a criminosa omissão de décadas e ponha de uma vez por todas os problemas do ambiente e da saúde pública em Sines sob controlo. Uma estratégia efectiva que mobilize os recursos humanos e materiais indispensáveis para uma efectiva resposta de curto prazo - a situação impõe uma resposta urgente - e um actuação a médio longo prazo.
Foi-nos dito, por um reputado especialista da Universidade de Évora, que o aquífero de Sines é bastante vulnerável pelas características geológicas dos solos que o confinam e que é, exactamente, sobre esse aquífero que estão implantadas as principais empresas poluidoras. Isso não seria motivo, por si só, para que desde há décadas as entidades responsáveis, com destaque para as empresas, o Governo e a autarquia, tivessem uma efectiva e rigorosa monitorização das fontes de poluição? A esta omissão como se poderá chamar? Incúria criminosa?
Para o actual autarca o que importa é que, segundo a sua opinião, nunca se fez aquilo que ele agora andará a fazer. O problema é que ele ocupa desde há 12 anos o lugar de Presidente da Câmara e antes, durante 20 anos, defendeu quem o precedeu, com unhas e dentes. Quem o ouve falar poderá pensar que ele acaba de chegar ao lugar há coisa de quinze dias. O problema é que aquilo que ele anda a fazer não nos permite chegar a nenhuma resposta nos próximos anos e por isso não nos resolve os nossos problemas, apenas adia a sua resolução e ajuda a manter-nos na expectativa. O problema é que a mobilização de recursos feita pela autarquia e pelas empresas para este fim é miserável, apenas e só miserável. O problema é que o Governo lava daqui as mãos como Pilatos e através da sua omissão coloca-se de um dos lados do problema: do lado das empresas poluidoras.
A questão ambiental e de saúde pública não podem continuar a leste do debate político nesta terra.


 

Pedra do Homem, 2007



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