Uma coligação com o BE “não repugna nada” a Mário Soares
A miragem está cada vez mais real. Apesar das gaffes dos PPRS, das manchetes do Expresso a aproveitar as ditas gaffes, de ser o partido que menos referiu as PME´s (embora a montagem dos Gatos não o deixe perceber) do caso das peixeiras e de tudo o mais, aquilo que se sabe é que o PS ganha as eleições com uma margem mais ou menos segura sobre o PSD e que a perda de votos/deputados é, em grande parte, absorvida pelo BE. Sabe-se que dificilmente o BE terá menos de 18 depuatados o que dá uma mais do que duplicação do seu actual grupo parlamentar. Um crescimento feito quase exclusivamente à custa do PS. Ao PS compete-lhe fazer aquilo que pode, já que nunca aceitou mudar as suas políticas, para atenuar a sangria maximizando en passant a diferença para o PSD. Por isso reuniu em fim de festa Manuel Alegre - talvez o maior crítico da governação de Sócrates - e Soares, com este a declarar que não o repugna a aliança com os bloquistas. Mas não menos severa - e menos equívoca do ponto de vista do próprio - para o BE terá sido a declaração de Alegre de que esta é a esquerda possível. Falava do PS de Sócrates,saliente-se. Vamos ver o efeito que estas declarações irão ter. Vamos ver como os apoiantes de Alegre optarão nestes últimos dias e como interpretarão a participação de Alegre na campanha ao lado de Sócrates.
A miragem não parece resolver-se com os meios tradicionais de fazer política à PS. Dramatizando o discurso político à esquerda, apenas em períodos eleitorais, bipolarizando o mais possível - com o uso e o abuso da chantagem do "votar na esquerda é votar no PS" - e aproveitando os bons ofícios do PSD e do seu líder de ocasião, para depois de ganhar governar à direita e colocar o Estado Social numa prateleira de serviços mínimos, longe, muito longe, da matriz social-democata dos seus congéneres do Norte da Europa.
Para este tipo de conversa não adiantam nada as declarações de Tiago Silveira, esse digno sucessor de Vitalino Canas, que antes de dizer o que quer que fosse sobre as nacionalizações "à lá Bloco" talvez devesse começar por ler o artigo de Saldanha Sanchez no Expresso. Quem sabe se não ficaria melhor porta-voz?

Adenda: Louçã já respondeu como não podia deixar de ser. "Louçã: Mário Soares “não representa o PS” . Não é facil este caminho que radicalizado contra Sócrates e o que ele representa não pode deixar de abrir uma porta por onde se possa expressar a ala esquerda do PS. O que pouca gente acreditará é que alguma vez essa ala esquerda possa liderar o PS. Manuel Alegre já quase que descreu e por essa altura esteve iminente o aparecimento de uma nova força política. Algures entre a perpectiva dos socialistas e a dos bloquistas essa força poderá vir liderar a esquerda nos próximos anos. Nem tanto do lado do mercado, nem tanto do lado do Estado, mas com exigência na introdução de justiça na economia e de esquerda na política.


 

Pedra do Homem, 2007



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