Frente-a-frente entre José Sócrates e Paulo Portas marcado pelas divergências sociais
Não sei se o atraso de Sócrates impediu o trabalho de maquilhagem, mas a verdade é que o primeiro-ministro não tinha aquele ar bem acabado que no dia anterior tinha suscitado a Judite de Sousa uma referência a uma "ideia europeia" sobre o ar sexy do dito.
Mas, os debates, já se sabia, são tudo menos sexys. São mais ou menos duros e mais ou menos esclarecedores. O de ontem não adiantou nada. Estão ambos muito convenientemente instalados nos seus territórios e se um está num processo de defesa dos anteriormente conquistados, ou pelo menos de minimização de perdas, o outro está num processo de clara reconquista para os quais mobiliza as armas do costume.
O que os torna uma dupla sui generís no actual quadro político é que fazem falta um ao outro para atingirem os seus objectivos. Cada um deles é a outra face o "querido inimigo" do outro.
Sócrates parece mais de esquerda do que nunca quando do outro lado está Portas, com as suas inenarráveis investidas contra os malandros do rendimento social de inserção e contra as políticas sociais que, segundo ele, se deveriam reduzir a menos impostos para as empresas deixando-lhes o ónus - e o proveito - de fazerem a redistribuição da riqueza. Ou quando insiste num modelo, fracassado em todo o lado, de transferir para o sector financeiro a gestão da segurança social. Apenas quando tem pela frente um programa tão deliberadamente privatizador da economia e de minimização dos serviços públicos, substituídos por negócios privados, Sócrates se pode dar ares de esquerda. Mas, Sócrates foi soft quanto baste com o seu adversário, exibindo mesmo alguma condescendência com Portas. Sócrates está interessado no crescimento de Portas e acha mesmo que esse crescimento será fatal para a hipótese do PSD ganhar as eleições. Nada de novo nas eleições à portuguesa. Mas, Sócrates admite - e é isso que conta no PS, por enquanto - que irá governar com Portas se as coisas correrem bem aos dois. Ontem, de forma morna, esforçaram-se ambos para que isso fosse possível.


 

Pedra do Homem, 2007



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