Louçã procurou encostar Sócrates à direita e à corrupção. Sócrates procurou mostrar o radicalismo de Louçã
Não vi o debate em directo mas os bons serviços da RTP permitiram-me visioná-lo antes de terminar o dia.
Foi o mais duro e o mais disputado de todos os debates ( não vi apenas o debate entre Portas e Jerónimo) a que assisiti. Julgo que este era o debate, o único que se situa num plano de igualdade, em termos da sua importância política, com o debate entre Sócrates e Manuela Ferreira Leite.
Sócrates é um político hábil que não treme na hora de fazer a definição do campo político de cada um e que tem uma aguda consciência do tipo de aceitação que as propostas mais "radicais" do BE podem despertar em amplos sectores da sociedade. Tentou usar esse facto para encostar Louçã a uma visão radical da economia e dessa forma assustar a classe média e mesmo sectores mais desfavorecidos da população. Pretendeu diminuir a influência do seu adversário junto de uma esquerda que estará por esta altura desavinda com o seu PS, mas que ele admite, ainda recuperar. Mas não foi bem sucedido. A utilização do programa do BE no capítulo das nacionalizações não revelou nada de novo. Sugeriu um tratamento idêntico para o sector financeiro, neste particular das nacionalizações, do que para o sector da energia e Louçã explicou o papel que atribui ao Banco Público na promoção de uma política pública de crédito não defendendo a nacionalização dos bancos comerciais. Na nacionalização da GALP, Louçã saiu-se bem como habitualmente, e Sócrates não foi convincente no argumento patriótico de que tinha evitado a venda da GALP à ENI, pois como se sabe vendeu-a a Amorim e à família Eduardo dos Santos.
Sócrates recorreu ao programa do BE para explicar estas propostas e para falar dos PPR's. Mas, a resposta - que alguns referiram ter sido menos clara - estava preparada. O BE quer anular as deduções num quadro de acesso gratuíto ao ensino e à saúde, o que se traduzirá numa vantagem consideradas as deduções actuais e os custos que os cidadãos suportam. Mas, este ataque provocará estragos junto da classe média e foi um dos mais eficazes de Sócrates.
No resto um desempenho firme e claro de Louçã que esteve quase sempre no ataque e que liderou claramente o debate. Parece-me que o líder do BE saiu relativamente bem das acusações de radicalismo e conseguiu dar uma ideia de equilíbrio, sensatez e de uma séria preocupação com a situação dos mais desfavorecidos acompanhada por uma proposta de mudança política. Mesmo quando referiu os impostos sobre as grandes fortunas e refriu os singelos 25 milhões que Amorim passaria a pagar anualmente sobre os seus 2,5 mil milhões esteve bem e deve ter merecido amplo apoio.
Sócrates deu luta mas a tarefa estava acima das suas possibilidades actuais.

PS - gostei de escutar a referência inicial de Louçã às diferenças entre o PS e o PSD. Gostei de escutar as referências de Louçã aos dislates de MFL sobre a "asfixia democrática". Gostei de escutar as referências de Louçã às convergências para a aprovação de leis importantes como a da IVG.


 

Pedra do Homem, 2007



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