A reflexão sobre a dimensão do sismo da madrugada de ontem prosseguiu nos principais jornais de hoje com destaque para o Público e para o DN. Se procurar com muito cuidado não encontrará uma linha ocupada com a reflexão sobre aquilo que importa fazer, antes muito antes do sismo ocorrer, para minorar as consequências da acção dos sismos. No limite pode encontrar referências à intervenção pós-sismo - a área da protecção civil em que os nossos políticos muito investem - mas quanto à verdadeira prevenção nem uma palavra. Tem sido sempre assim, nos últimos anos. Há uma conjugação que é aparentemente impossível de ultrapassar, que resulta da aliança entre a ignorância tradicional da classe política e a ignorância dos jornalistas. Os políticos infelizmente - por acaso não sei se esta palavra será muito apropriada - não podem, mas pensam que p0dem, fazer um Decreto-Lei em que decidam que os sismos apenas poderão ocorrer no "nosso território" se devidamente autorizados cumprindo com regulamentos por eles elaborados e decidir, en passant, qual a classe profissional que lhes poderá conceder o direito de se manifestarem .... à superficie.
Mas, desgraçadamente, puderam, ano após ano - e já mesmo este ano de uma forma intensamente estúpida - degradar - com leis cada vez mais incompetentes, uma especialidade - as condições de exercício da actividade de engenheiro civil e as condições de segurança estrutural em que os edificios são projectados.
Os jornalistas ofuscados pelos diversos brilhos, efémeros quase sempre, da edificabilidade, recusam-se, por manifesta incompetência e porque é um tema muito... cinzentão e dá muito trabalho, a descer um pouco mais ao conteúdo. Deixam esse trabalho para ... os sismos e para os que algum dia tiverem que escrever sobre as suas consequências devastadoras.
Há uma pergunta que nunca ninguém coloca e que é afinal muito simples: estamos a fazer aquilo que devemos para que as nossas construções resistam aos sismos de acordo com o conhecimento técnico disponível garantindo a protecção de vidas e de bens materiais? E se não estamos, porque razão isso se passa?
A resposta a esta pergunta é que é muito complexa e não se resolve com duas cantigas pelo que não mobiliza nem políticos nem jornalistas. É coisa para estudiosos.


 

Pedra do Homem, 2007



View My Stats