Nos últimos dias o Eng.º Ferreira do Amaral informou o País sobre a excelência do desempenho empresarial da Galp. No ano de 2004 os lucros da empresa totalizaram 333,00 milhões de Euros. Excelente. Grande parte deste desempenho é fruto da actividade desenvolvida nas instalações de Sines e, em menor grau, nas instalações de Matosinhos. Segundo o ainda presidente da Galp são muito animadoras as perspectivas da empresa para o futuro. Para isso contribui sobremaneira a autorização, que obteve recentemente, para construir em Sines uma central de ciclo combinado que irá produzir 430 MW de energia eléctrica a "um preço imbatível" para citar o próprio. O que nunca conseguimos encontrar nas declarações de Ferreira do Amaral é a mais pequena alusão à alteração, pela empresa, da sua prática em termos ambientais e de segurança nas instalações de Sines. Depois do acidente de Matosinhos e do epifenómeno Nobre Guedes tudo ficou como dantes. Os prometidos inquéritos sobre o desempenho ambiental e de segurança caíram no esquecimento. A empresa lá vai assinalando a sua "responsabilidade social" para com a região, onde se situam grande parte das suas instalações produtivas, distribuindo algumas míseras centenas de milhares de euros aos autarcas da área de influência. Esta situação é chocante. Uma empresa poderosa com capacidade para gerar lucros deste montante - num país arruinado com a economia de pantanas - é incapaz de efectuar as alterações no seu processo produtivo que a tornem menos nociva para as populações e para o ambiente em geral. Atenção trata-se de colocar a empresa a produzir nos limites do tecnicamente possível em termos ambientais e não de pedir milagres. Só o fará quando a União Europeia o impuser. Até lá conta com o apoio e a "compreensão" dos "autarcas amigos" sempre prontos para assinalarem os esforços que a empresa vem fazendo para resolver os problemas. Esforços que só esses autarcas conseguem ver.
No futuro próximo além de criar condições para impossibilitar estas práticas ambientais é fundamental regulamentar as relações entre as autarquias e estes colossos empresariais. As grandes empresas industriais devem contribuir para o desenvolvimento local em função de critérios objectivos fixados em lei. As "doações" feitas à medida e por pedido são uma arma a favor do silêncio e da resignação e deverão ser claramente proibidas. As verbas recebidas no âmbito das contribuições anteriormente referidas devem ter uma afectação específica. Devem ser destinadas a programas de prevenção ambiental, de educação ambiental e para financiar intervenções promotoras da qualidade de vida das populações. Fins muito claros definidos na lei e cuja aplicação seja verificada por entidades exteriores, ano após ano. E sobretudo não devem ser a contrapartida para o tal silêncio e para a tal resignação daqueles que deveriam defender os interesses das populações.
Até lá Engº Ferreira do Amaral não se esqueça que cheira muito mal por detrás de tanto lucro. E não se fie demasiado na paciência dos alentejanos.
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