Por um indesculpável lapso não foi aqui chamada a devida atenção para um artigo de opinião, publicado no Público da passada terça-feira, da autoria do arquitecto Nuno Lourenço, cujo título é "Música visual na rotunda da Boavista".
Nesse artigo Nuno Lourenço analisa a importância da Casa da Música enquanto "pólo de renovação urbana e lugar de vivências memoráveis". O arquitecto analisa, com brilhantismo, a monumentalidade do edifício, enquanto principal característica justificadora e legitimadora da sua existência, e que minimiza ou torna dispensável outro tipo de equações como o da adequação dos seus usos e funções às necessidades da Cidade, tal como torna dispensável a avaliação da relação do edifício com o espaço público envolvente. A organização espacial do edifício e o facto de Koolhas ter colocado ao nível da praça as funções que são secundárias para a organização do espaço público, "caso dos acessos às garagens e elevadores, os gabinetes administrativos, os acessos técnicos e de segurança (...)" torna a relação com o espaço público envolvente inexistente.
Para Nuno Lourenço "estamos perante um conjunto grave de erros de sintaxe resultante de uma hipervalorização infantil de figuração megalítica do edifício."
Uma análise que o próprio arquitecto holandês não rejeitaria, com a ressalva dos erros de síntaxe, o que não surpreende se tivermos um mínimo de conhecimento da sua obra e sobretudo se conhecermos o que ele escreveu sobre a organização urbana, na sua obra de referência editada em 1977 e cujo título é " A cidade Genérica". Koolhas subscreveria, com incomparável prazer, a frase " A Casa da Música é, antes de mais, um monumento e, como tal, os usos e funções que ali são instalados devem submeter-se ao facto consumado da sua monumentalidade" que sintetiza o carácter crítico do texto de Nuno Lourenço.


 

Pedra do Homem, 2007



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