No Litoral Alentejano só a Câmara de Alcácer do Sal mudou de mãos, passando da CDU para o PS. Em Sines e Santiago do Cacém a CDU manteve as autarquias tendo reforçado a maioria absoluta em Sines e reconquistado a maioria absoluta, perdida em 2001, em Santiago do Cacém.
Santiago do Cacém foi a maior surpresa. O PS que esteve à beira de conquistar a Câmara em 2001, tendo eleito três vereadores, tantos como a CDU, e conquistado quatro importantes freguesias perdeu um vereador e ficou apenas com uma freguesia. A CDU recuperou a maioria absoluta perdida em 2001.
A principal razão, para o resultado do PS, foi a opção tomada em 2001 de não aceitar pelouros na Câmara. Quem tem autarcas em funções executivas ao nível das freguesias não pode deixar de ter responsabilidades na Câmara. A população que votou em 2001 entendeu a opção dos socialistas de forma muito crítica. Outra razão foi o triunfalismo evidente e uma campanha jocosa mais com base em imagens - nem sempre felizes - do que em propostas concretas. Das opções pessoais não posso falar por desconhecer as pessoas, mas é óbvio que sempre que cheira a poder agudizam-se pequenas guerras internas e pequenas traições que fazem estragos.
Mérito na vitória da CDU para o candidato Vítor Proença, que apostou na recuperação das freguesias como forma de criar condições para a vitória no concelho.
Em Sines o resultado foi semelhante mas a vitória da CDU foi mais retumbante, pois alargou a sua anterior maioria absoluta. Do ponto de vista do resultado final este é o melhor alcançado desde 1989. A principal razão foi o medíocre - é uma expressão benigna - desempenho da última vereação socialista. Um trio de mudos com completa falta de ideias. Fazer oposição dá trabalho e tem custos pessoais e profissionais. Não estiveram para aí virados. O PS colocou-se na oposição às principais realizações do último mandato da autarquia que o próprio partido tinha aprovado, e apoiado, no mandato anterior. Em 2001, com base no trabalho da vereação anterior, o PS estava associado ao que de bom a autarquia ia fazendo e a população traduziu isso em votos.
A segunda razão foi a campanha pesada feita pela Câmara. Julgo que posso falar verdade: foi a câmara que fez a campanha, a CDU não terá gasto muito dinheiro. As inaugurações - com pompa e circunstância à Alberto João - o conjunto de obras lançadas nos últimos meses, a pressão e o condicionamento eleitoral tremendo, sobretudo sobre os trabalhadores da câmara, como nunca foi feito desde o 25 de Abril, surtiram os seus efeitos.
A terceira razão já se verifica há pelo menos três eleições: o PSD não consegue eleger um único veredor, optando grande parte dos seus militantes e simpatizantes por votarem útil nos comunistas. Esta opção tem a ver com o perfil do eleitor PSD e com a sua ligação a algumas famílias que têm "posto e disposto" nas questões do imobiliário ao longo de trinta anos. A gestão da autarquia foi sempre- com alguns períodos de excepção - feita de acordo com os interesses dessas pessoas.
A quarta razão são duas: em primeiro lugar o tipo de campanha feito pelo PS, responsabilidade maior do candidato, muito pouco incisiva e sem conseguir, ou optando por não o fazer, abordar questões decisivas no concelho de Sines, tais como as relações entre a autarquia e os seus eleitos e alguns poderes ligados ao imobiliário e à construção, a transparência na gestão dos dinheiros públicos e a manipulação dos instrumentos de planeamento e licenciamento para proporcionar benefícios ilegítimos; em segundo lugar a guerra interna, quer a que apareceu estridente nos jornais, apesar de tudo mais legítima porque assumida, quer aquela que decorreu surda mas eficaz nos bastidores. Muita gente dita do PS, e até candidatos, atacavam pelas costas o cabeça de lista. Permanece aquela triste sina dos potenciais candidatos que esperam - nas listas - pelo pior resultado possível para, da próxima vez, serem eles. Centenas de eleitores socialistas foram incentivados a absterem-se e alguns terão votado na CDU. O caso de Porto-Côvo é um subproduto desta última situação. O PS ganha a Junta mas perde a Câmara. "Votem aqui no candidato, mas deixem lá o outro gajo que ninguém conhece". O facto do candidato ser pouco conhecido, não chega a ser uma razão, é uma falácia sem nexo.


 

Pedra do Homem, 2007



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