Uma das formas de observar a maturidade política de um pais é ter em conta a maneira como se organiza o seu espaço.
Quando vamos ao norte da Europa, damos por nós a dizer: “Que organizados são estes tipos!”. Se formos francos, até os nossos vizinhos ( poupo o inventário de semelhanças e diferenças) conseguiram chegar ao “nível da União”. Madrid ou Barcelona mostram que somos capazes (os do Sul) de fazer tão bem como eles. Mas também as cidades médias espanholas entraram na corrida: Salamanca, Valladolid ou Sanitago de Compostela. Seria, claro, demasiado pessimista afirmar que só Portugal ficou para trás na realização de projectos de ordenamento regional e urbano. Lisboa, Porto e muitas cidades do Norte apresentam um corte urbanístico agradável, valha-nos a capacidade quase olímpica de algumas instituiçoes regionais conseguirem conjugar o tradicional com os” mamarrachos” dos anos eufóricos do "desenvolvimento urbano português". Assim, embora Estarreja não seja das cidades pequenas a mais bonita de Portugal, tem uma praça “limpa”. Aveiro e Braga progressam, cidades como Guimarães, Miranda do Douro ou Estremoz parecem estar no bom caminho. Estas observações desprendem-se completamente de todo e qualquer juizo oficial, pois fazem parte da opinião de quem visita ou visitou recentemente estas cidades.
Ainda que leigo no assunto, posso questionar o que a este nível se passa em Sines. Senão vejamos: no ano de 2004, a população do concelho tinha pouco mais de 13.600 habitantes. Por outras palavras, “a terra é pequena”. Sines dispõe, de uma óptima posição face ao mar e todas as vantagens que daí advêm. Um clima agradável. Ao ler estas linhas, qualquer um que tenha estado em Sines entende que falamos de lugares comuns. Da mesma forma, qualquer um pode colocar questões. Por exemplo: Se a Avenida Vasco da Gama conferiu à faixa litoral da cidade um ar mais agradável, porque não fazer o mesmo no chamado centro histórico? Ou porque não nas principais artérias da ex-vila? Ainda que possamos não estar informados a respeito de quem dá o dinheiro para fazer o quê, podemos continuar preguntando: Porquê fazer o tão esperado Centro das Artes na parte antiga ( e já suficientemente desorganizada) da cidade? Porquê esse gasto de dinheiro nessa passarela em pedra, muito mal acabada e que acaba tragicamente a remendos de alcatrão, como se uma criança gigante a tivesse remendado com os seus dedos numa tarde de brincadeira? Não se entende. O visitante ou o habitante, ou quem sabe, os dois juntos, poderiam ainda contemplar a descontinuidade urbanística daquele canto da cidade, o novo entreposto cultural da região: uma casa Alentejana típica, escoltada por um prédio creme anos noventa e pelo mini CCB. Os ditos remendos a alcatrão e, de vez em quando, um carro que passa, ziguezagueando de forma a não chocar contra os pilarzinhos chiques que ao longo da passarela rosa foram colocados. Visitante e habitante pensariam certamente: “Que desorganizados são estes tipos”. E não é difícil. Entre obras e mais obras – já sabemos que é um clássico fácil criticar as obras da via urbana – necessitamos de bússolas para encontrar o Norte em terras de Vasco da Gama. Caso de imaturidade política? Falta de consenso? Não sei. Só sei é que aqui, até Vasco necessitaria de uma bússola.

António Oliveira e Silva

(texto recebido de um leitor via e-mail)


 

Pedra do Homem, 2007



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