Já aqui tive oportunidade de referir algumas das posições assumidas publicamente sobre a saída da GM para Espanha baseadas nos lugares comuns do costume. Deslocalização devido aos baixos salários da concorrência e à falta de produtividade dos nossos trabalhadores. Nem o facto de neste caso a deslocalização se fazer para Espanha, uma das economias mais dinâmicas da UE, desmobilizou a asmeira. Nem o facto de os trabaljadores da Azambuja terem a produtividade mais elevada dentreo do grupo impediu o recurso à cassete.
Ontem na TVI enquanto Miguel Sousa Tavares se esforçava por explicar as características específicas da situação o jornalista lá avançava: "mas ó Miguel não achas que isto tem a ver com a competição dos baixos salários dos países de Leste etc,etc".
A justificação deste tipo de casos como uma fatalidade parece inscrever-se no mesmo registo.
O problema neste caso tem a ver de facto com os problemas com que se depara a GM a nível internacional e com as escolhas que a empresa tem que fazer para reduzir a capacidade de produção instalada, tentando reduzir custos. Neste particular aquilo que o ministro da Economia diz faz todo o sentido. O problema é que tendo que escolher entre Espanha e Portugal a GM escolheu o mais forte aquele que gere politicamente com mais eficácia os seus interesses. Com os Espanhóis não se brinca tão facilmente e a GM sabe disso. Aliás a questão dos 500 euros é risível e ultrapassável como explicou na SIC Notícias o socialista Henrique Neto.
Com Portugal é o que sabe: mais de 1/3 do último investimento realizado pela empresa na unidade contou com fundos públicos e com a presença do primeiro-ministro -Durão Barroso - que teceu loas à excelência do nosso cluster automóvel. Contou igualmente com a presença do Presidente da República que visitou esse motivo de orgulho para Portugal.
Quem foi capaz de prever um cenário como o actual e quem foi capaz de equacionar as variáveis que potenciariam um desfecho como este? Claro que nada foi feito - não só por este Governo - porque certamente estão todos convencidos que isto é uma fatal consequência da "distância e custos de transporte, défice de qualificação profissional, baixa produtividade, falta de fornecedores domésticos qualificados, elevados custos de energia, falta de competividade fiscal(...)"
Os Governos habituaram-se a deitar milhões para cima dos potenciais investidores e a tentarem por essa via mantê-los cá por mais uns anitos. Acontece que isso não é suficiente desde há muito. Tal como a conversa dos baixos salários e da localização geográfica não ajuda a explicar grande coisa neste momento.
Adenda: De tudo o que os partidos disseram sobre o acontecimento pouco se aproveita. O representante do PSD foi mesmo de uma politiquice confrangedora. Só faltou dizer que com o PSD a GM continuaria em Portugal. A seguir passaram as patéticas declarações de um festivo Durão Barroso . Bem podia ter ficado calado.
Chocante é a possibilidade admitida pela UE de deslocalizações no interior da UE, contra as políticas públicas de reforço da coesão e à custa de dinheiros comunitários. Nesse sentido o que Francisco Louçã disse sobre a necessidade de Portugal defender a alteração das regras faz todo o sentido. O resto, tipo chamar o ministro da economia ao Parlamento, é a politiquice do costume a que ninguém liga.
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