O consenso entre o PS e o PSD - de que o recente pacto sobre a Justiça seria o primeiro passo - deve, para um significativo numero de analistas políticos, ser alargado a outras áreas da governação. A área que estará na mira dos consensualistas é a Segurança Social. Sócrates, eleito à esquerda com maioria absoluta, entendeu por bem esclarecer que o PS "não vai por aí", isto é que não segue o caminho que o PSD lhe indica, orientado pelo farol de Belém.
Mas, todos sabemos que Cavaco, tal como Sócrates, não se conforma. Certamente será possível estabelecer o tal consenso e, não é impossível juntar o melhor - ou o pior? - de dois mundos; Vieira da Silva vir a terreiro, tal como Alberto Costa o fez por estes dias, proclamar que este é "o Pacto que eu sempre quis".
A União Nacional, que juntava sob a sua divisa os bons portugueses, no léxico salazarista, excluíndo todos os outros, acabou politicamente no dia 25 de Abril, mas a ideia de que a política é sobretudo a arte dos consensos vai beber muito, senão tudo, a essa cultura que durante mais de cinquenta anos fez de grande parte dos portugueses gente passiva, acomodada, incapaz de se bater pelas suas ideias e pelos seus valores. Gente, que ainda continua fiel aos mesmos valores. Gente que se cala para não estragar a vidinha, sabedora da susceptibilidade dos políticos e de que mais vale cair nas graças do que ser engraçado.
Com o primeiro-ministro que, embora eleito à esquerda, maiores simpatias desperta à direita o consenso é possível. Sobretudo se ele permitir a concretização dos objectivos políticos em que essa União se revê. Como agora no pacto de regime sobre a justiça onde não cabem as propostas de João Cravinho sobre o combate à corrupção.
Porque será que nunca se falou de consensos quando a maioria absoluta foi de direita ou quando a governação à esquerda se fez com maiorias relativas e com um Presidente da República eleito à esquerda?


 

Pedra do Homem, 2007



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