A situação na autarquia de Lisboa dá bem uma medida das entorses que caracterizam o actual sistema de governo dos municípios. Se, por hipótese, Carmona Rodrigues viesse a ser constituído arguido e em função disso optasse por se demitir, admitindo que Marques Mendes considerava que passava a não existir razões para não realizar eleições antecipadas, podia acontecer que se realizase eleições apenas para a autarquia mantendo a actual maioria absoluta PSD na Assembleia Municipal. Isto é, uma nova maioria eventualmente de sinal contrário à actual teria que contar com a actual maioria PSD na AM. Bizarro no mínimo. Por outro lado numa situação de crise como esta percebe-se bem quantos tipos de vereadores coexistem no mesmo executivo. Os que foram eleitos para governar a cidade em função do seu programa e os que mesmo estando em maioria executam funçôes de controlo do exercício do poder pelos outros. Outra bizarria.
Imagine-se como tudo não seria diferente se em função deste tipo de problemas ou de outro de natureza semelhante Carmona Rodrigues, ou qualquer outro autarca, fosse ao Parlamento Municipal apresentar uma equipa renovada e obter, ou não, um reforço da confiança política dos deputados. Claro que os executivos emanariam da Assembleias Municipais - só seriam pluri-partidários caso resultassem de coligações aí estabelecidas em sede de negociação política - e as Assembleias Municipais seriam orgãos eleitos pelo povo com capacidade política de efectivo controlo do poder executivo - sem essa bizarria que resulta de os resultados dos votos expressos pelos cidadãos poder ser corrompido pela participação das Freguesias nas Assembleias Municipais com direito de voto.
O que aqui se diz - muita gente fala disto desde há mais de década e meia, sem qualquer eficácia - não significa que exista da parte de alguém - com excepção, ao que parece, do BE - na Câmara de Lisboa uma vontade manifesta de que se realizem eleições antecipadas. Por puro calculismo político que muitas vezes se confunde com o pior oportunismo. Todos acham que mais vale que Carmona Rodrigues e o PSD continuem a gerir a autarquia e a arrastar com as imensas dificuldades que tolhem a actividade autárquica. Esperam colher mais facilmente os trunfos eleitorais desse "cozer em lume brando" da actual gestão. O problema é Lisboa e são os lisboetas que não deveriam ser obrigados a esperar por uma clarificação da situação e por uma nova gestão reforçada e com um projecto para enfrentar e resolver os graves problemas que se deparam à cidade.
Adenda:As tristes intervenções de Filipe Menezes só servem para dar uma imagem melhorada de Marques Mendes cuja intervençâo neste processo tem sido marcada pela sobriedade e pela coerência.
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