Deixo aqui uma relação dos livros de que mais gostei no ano de 2006. Esclareço desde logo que não são apenas livros publicados em 2006. São livros que eu descobri e li em 2006 e apenas aqueles de que mais gostei.

O ano de 2006 foi o ano em que me iniciei na leitura de Phillip Roth. Li, por esta ordem, Pastoral Americana, A Mancha Humana e O Animal Moribundo (o último livro que li em 2006). Gostei muito de todos eles. Mas, provavelmente, é a Mancha Humana o melhor de todos estes livros. A leitura dos romances de Roth é absorvente, a história toma conta de nós, as personagens são-nos familiares logo após as primeiras páginas e não conseguimos parar de ler até ao fim da história. Roth é um enorme escritor. Todos estes livros dão disso testemunho. Tentei outro Roth, "Casei com um comunista", algures entre a Mancha Humana e o Animal Moribundo e não gostei tanto. Interrompi a leitura mas irei voltar ao livro em 2007. Normalmente não regresso depois do abandono mas Roth merece.

O "EDUQUÊS" EM DISCURSO DIRECTO. Uma crítica da pedagogia romântica e construtivista" de Nuno Crato ( Gradiva)

O Fim do Petróleo. O grande desafio do Século XXI. James Howard Kunstler(Bizâncio). Kunstler escreveu uma obra absorvente e preocupante sobre a nossa civilização. A tese do autor é a de que a civilização em que vivemos está a acabar com o fim próximo do petróleo barato. A globalização só existe porque o preço dos transportes é tão barato que podemos consumir produtos produzidos ou fabricados no outro lado do mundo. Com o aumento inexorável do preço do petróleo acompanhado do fim da sua exploração comercial esta civilização irá sofrer mudanças radicais. A proximidade voltará a impor-se. Kunstler analisa as possibilidades das energias alteranativas para chegar a conclusões nada animadoras. O tempo da energia barata está a acabar. Não durará mais de quarenta anos na melhor das hipóteses.

A Anestética da Arquitectura. Neil Lech ( Antigona). Uma reflexão sobre o papel da arquitectura numa sociedade dominada por uma cultura de consumo estético com tendência para o seu afastamento das realidades quotidianas, com os discursos significativos a serem substituídos por estratégias de sedução. Particularmente importante a sua leitura num País em que a arquitectura e a sua estetização aparecem como legitimadoras de progamas políticos medíocres.

Mudar o Poder Local. Paulo Morais( edeline). Publicação de uma entrevista com o antigo vereador do urbanismo do primeiro mandato de Rui Rio na Câmara do Porto, com a denuncia das situações de corrupção no poder local, sobretudo envolvendo as questões do urbanismo. Muito actual e muito interessante e sem remédio à vista, infelizmente. Saliento a frase absolutamente rigorosa: " Hoje, a forma mais encapotada e mais sub-reptícia de transferir bens públicos para a mão de privados é através justamente da gestão urbanística pouco séria."

Lenin Oil. Pedro Rosa Mendes (Dom Quixote) . Um romance sobre o poder do petróleo em África. Sobre a desgraça que quase sempre representa para os países pobres a existência do Ouro Negro. São Tomé é deste ponto de vista um pretexto embora seja santomense a relação com as trevas, com o além, com a morte de que o autor nos fala ao longo do livro. Uma escrita marcada por um lado fantástico, quase por um delírio.

Correspondência Sophia de Mello Breyner e Jorge de Sena (Guerra e Paz)

Reconstruir la ville sur la ville. Coord. Paul Schwach. (ADEF) Agora que se fala pouco e mal sobre a venda do Património do Estado porque não tentar perceber o que é afinal a reciclagem urbana e como ela tem sido concretizada um pouco por todo o Mundo. Ao contrário cá da casa em que seja o Governo de direita ou de esquerda, património devoluto ou alienável só rima com dinheiro em caixa. Malheureusement.

Globalização a grande desiluzão. Joseph Stiglitz. (Terramar) e Os Loucos Anos 90. A década mais próspera do Mundo. Joseph Stiglitz (Terramar).
Stiglitz fala da globalização e dos anos 90 a partir de uma posição de actor dos acontecimentos mundiais quer como vice-presidente do Banco Mundial quer como conselheiro de Clinton para as questões económicas.
Notável sobretudo o primeiro livro no qual denuncia as razões do falhanço da Globalizaçaõ e aponta o dedo ao FMI, ao tesouro Americano e ao famigerado consenso de Washington. Stiglitz denuncia a falência das políticas do FMI e o facto de este ser hoje um instrumento de políticas contrárias às ideias defendidas pelo seu fundador, Keynes. Dá conta de paises que se arruinaram com graves conflitos sociais, pobreza e desemprego em massa por terem seguido a receita do fato único do FMI enquanto outros que resistiram ao modelo neo-liberal sobreviveram com muito menos danos sociais.

Sentimento do mundo. Carlos Drummond de Andrade. (Editora Record)

Um dos meus poetas preferidos e alguns poemas que fui editando no Pedra do Homem ao longo do ano.

Releituras

FASCÍNIO DA CIDADE. Memória e Projecto da Urbanidade. Vítor Matias Ferreira.( Ler Devagar, 2004). Notável e sempre fonte de novas descobertas.

LES MÉCANISMES FONCIERS DE LA SÉGREGATION. (ADEF,2004) Uma obra colectiva notável com uma reflexão sobre os mecanismos que determinam a segregação espacial das populações. Uma reflexão que não poupa nada nem ninguém. Desde o zonamento da Carta de Atenas de Le Curboisier, ao Direito do Urbanismo, às Políticas Públicas -ou à falta delas - de Desenvolvimento Urbano, ao crescente poder dos promotores imobiliários, todos as contribuições para a crecente segregação espacial das populações são avaliadas bem como as respostas políticas mais bem sucedidas e as causas para os fracassos que ocorreram. Leitura recomendada para os que acreditam que a democracia é o regime das escolhas e não das fatalidades.


 

Pedra do Homem, 2007



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