Assisti a uma parte considerável do debate entre os dois candidatos presidenciais franceses na Antene 5. Os candidatos mostraram com clareza o que os separa em quase todas as áreas. Questões importantes a que os políticos devem dar respostas e relativamente às quais, no nosso caso, estamos habituados a assistir ao silêncio e ao disfarce. Imagine-se uma discussão presidencial em que os candidatos discutem a sua posição relativamente a questões como a habitação, o aquecimento global, a perda do poder de compra, o emprego, e a reforma da Administração entre outras.
Deu para perceber que existe um candidato mais à esquerda e outro mais ( ou muito mais) à direita.
Quanto à habitação Sarkozy revelou-se "ambicioso": quer tornar os franceses um país de proprietários. Segoléne prometeu uma intervenção do Estado na política de habitação, sobretudo para as classes que não podem, sequer, aceder ao mercado de arrendamento social.
De certo modo Sarkozy gostaria que os franceses fossem como os portugueses proprietários das suas habitações. Com a pequena particularidade de que essa propriedade é feita por interposta instituição: a banca. Quer o Estado fora do problema e o mercado - aliás a banca - a funcionar. A questão de que este modelo, tal como em Portugal podemos verificar, exclui do acesso à habitação centenas de milhares de famílias e faz com que o rendimento disponível depois de pago o crédito à habitação tenda a diminuir a longo prazo, levando mesmo ao incumprimento, não o parece demover ou inquietar. Segoléne quer melhorar a tradicional política da esquerda nesta matéria mas insiste na intervenção pública limitada ao parque social. Uma solução de meias-tintas.
Quanto à reforma da Administração Pública, Sarkozy quer avançar a todo o vapor e não quer grandes discussões. Promete criar apenas um posto de trabalho por cada dois trabalhadores que se reformem. Parece que está mesmo impressionado com a reforma de Sócrates. Segoléne quer definir as funções do Estado e quer que o Parlamento e os parceiros sociais participem na definição da reforma. Prometeu nao diminuir o número de funcionários públicos optando por colocar o enfase na melhoria da eficácia da Administração. Uma diferença substancial agora que o slogan techtariano de "menos Estado melhor Estado" conquistou tantas almas socialistas.
Quanto ao défice, Segoléne colocou o enfâse no crescimento e prometeu baixar os impostos para as PME´s, que irão beneficiar do grosso das isenções fiscais. Apenas acima de taxas de crescimento superiores a 2,5 % canalizará verbas para combater o défice. Uma ideia socialista do combate ao monstro por cá muito em desuso. Diferenças claras no combate ao desemprego com a ideia de Sarkozy de isentar a tributação das horas extraordinárias a separar claramente os dois candidatos. Segoléne aposta nas verbas que o Estado perdia com essa isenção para financiar políticas activas de emprego sobretudo para os jovens licenciados.
Numa coisa ambos os candidatos estavam de acordo: na excelência do sistema de ensino e de formação profissional em França. Não poderíamos ir lá estudar?
Parece que nesta coisa das famílias políticas são mais as vozes do que as nozes.
Adenda: A senhora Royal - foi sempre assim tratada por Sarkozy - esteve bem e, não sendo eu um exemplo de imparcialidade, dava-lhe a vitória sem hesitação.
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