Helena Garrido a propósito de um conjunto de reacções de políticos ao endividameno crescente das famílias e à cada vez maior insolvência de muitas, critica os apoios propostos e defende a tese de que "(...)criar um ‘subsídio’ para ajudar quem contraiu empréstimos é infantilizar os cidadãos(...)"
Helena Garrido encontra semelhanças nas propostas de George Bush, Paulo Portas e Francisco Louçã. Trata-se de uma manifesta confusão já que todos falam de coisas diferentes e propõem coisas diferentes. Bush, como denunciou Martin Wolf, apenas actuou porque a crise estava a levar várias instituições financeiras à falência. Tratou-se de uma intervenção para salvar Wall Street e os problemas das famílias são neste caso absolutamente secundários. Como aqui escrevi se o problema do incumprimento acontecesse numa altura em que a procura das habitações estivesse em alta os bancos, pura e simplesmente, executariam as hipotecas. Quando isso não é possível os bancos esperam pela intervenção dos Governos. Há alturas em que, pelos vistos, não se pode confiar na mão invisível do mercado.
Em Portugal já conteceu uma situação semelhante quando o Governo de Durão Barroso aumentou o período de amortização dos empréstimos, passando de um máximo de 30 para 40 anos e agora para os anos que forem precisos. Nessa altura as casas não se vendiam e o incumprimento estava a aumentar. A solução adoptada foi essa: garantir o negócio dos bancos, assegurando condições para as famílias cumprirem as suas obrigações com o serviço de dívida embora a troco de pagarem ainda mais pela casa.
Paulo Portas limitou-se a aplaudir a o posição do BCE de não aumentar as taxas de juro o que se revelou irrelevante já que as instituições financeiras resolveram , apesar disso, aumentar as suas taxas. Portas propõs ainda que o próximo Orçamento de Estado consagre medidas de apoio às famílias. Não as especificou, mas podemos concluir que as motivações de Bush são semelhantes às de Portas e daí não virá espanto ao mundo.
Por fim Louçã que defende a redução dos juros para as famílias em situação de desemprego, a redução de um por cento dos juros para a compra de habitação social e a melhoria da acção social escolar. Medidas com um custo anual de 12 milhões de euros. Uma bagatela para valer a muita gente que, sem estas medidas, ficará numa situação de rotura. Note-se que Louçã não propõe medidas que permitam aos bancos aumentar os seus rendimentos à custa de um esforço acrescido das famílias, embora diluído ao longo de um perído maior, antes pelo contrário. Julgo que Louçã poderia ir mais longe nas suas propostas, mas as que apresentou são sensatas e não infantilizam ninguém.
Porque razão não deveriam os Governos apoiar as famílias em dificuldades quando isso resulta das omissões e dos erros das suas políticas de habitação ou melhor da falta delas? Porque razão não se pode apoiar as famílias e se pode apoiar os bancos com a injeção de milhões de euros como fez o BCE e como fez o Governo britânico para tentar desesperadamente salvar um banco devorado pela crise do subprime?
PS - acesso ao post de Helena Garrido via Ladrões de Bicicletas.
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