Os últimos quatro capítulos do livro são dedicados respectivamente a analisar o papel da Empresa Multinacional, do Ónus da Dívida e da necessidade de Reformar o Sistema Global de Reservas para dedicar o último capítulo à necessidade de Democratizar a Globalização.
As empresas, sobretudo as empresas multinacionais, estão no centro da globalização e são normalmente acusadas de muitas das suas enfermidades. Para Stiglitz a “questão a colocar é a de saber o que deve ser feito para minimizar os seus malefícios e maximizar o seu contributo líquido para a sociedade” O autor critica a perspectiva, muita vezes dominante entre os economistas, de que a primeira e única responsabilidade das empresas é para com os seus accionistas. Para melhorar o contributo das empresas, para tornar eficaz a globalização, Stiglitz aponta os seguintes caminhos: 1) aumentar a responsabilidade social das empresas. “Cada vez mais firmas vêem a responsabilidade social das empresas (SER) como uma questão de boa prática empresarial e em muitas delas os executivos e os empregados consideram que esta responsabilidade social é tanto um valor moral como um valor económico. (…)” No entanto “ (…) todas as empresas, mesmo as mais poluidoras e as que têm os piores registos laborais, contratam firmas de relações públicas que divulguem elogiosamente o seu sentido de responsabilidade empresarial e a sua preocupação com o meio ambiente e os direitos dos trabalhadores. Tornaram-se adeptas da manipulação da imagem e aprenderam a falar a favor da responsabilidade social, mesmo quando fogem dela.(…)”; 2) limitar o poder das empresas. Stiglitz quer actuações eficazes que permitam atacar os monopólios e a cartelização. Critica o facto de não existir uma abordagem global para este problema mas sim uma abordagem fraccionada, em que cada país vela pelos seus próprios cidadãos; 3) Melhorar a governança empresarial. O que aqui se propõe é a alteração das leis que governam as empresas e que as colocam a coberto dos prejuízos que provocam. Em particular a lei da responsabilidade limitada é questionada; 4) Leis globais para uma economia global. Um conjunto de leis globais que forneçam o enquadramento legal internacional aplicado por tribunais internacionais que são “tão necessários para o bom funcionamento da economia global como os tribunais federais e as leis nacionais o são para as economias nacionais.”; 5) Reduzir o âmbito da corrupção. Partindo do reconhecimento do “efeito corrosivo da corrupção e da necessidade de atacá-la tanto do lado da procura como da oferta” são abordadas questões como os subornos, o sigilo bancário. Sobre esta questão Stiglitz escreve que:“ (…) o sigilo bancário agrava os problemas da corrupção, oferecendo um santuário seguro para os ganhos de origem ilícita.”
No capítulo dedicado ao Ónus da Dívida o autor constata que a dívida dos países em desenvolvimento transforma-se em muitas situações num factor gerador de atraso e de crises profundas. Para Stiglitz o problema é fácil de equacionar: “os países em desenvolvimento contraem demasiados empréstimos – ou emprestam-lhes de mais – e de formas tais que se vêem obrigados a suportar a maior parte ou até a totalidade do risco dos aumentos subsequentes das taxas de juro, da flutuação cambial ou das diminuições dos rendimentos. Considerando tudo isto não admira que muitas vezes não consigam devolver o que devem. (…)” A solução passa por um conjunto de medidas das quais se destaca a necessidade de aliviar a dívida dos mais pobres prosseguindo o caminho aberto com a iniciativa do Jubileu 2000. No entanto existe a necessidade de diminuir a instabilidade do sistema financeiro internacional e daí a necessidade de “Reformar o Sistema Global de Reservas”. A tese defendida por Stiglitz é a de que o actual sistema de reservas permite fazer com que o dinheiro “corra escada acima, dos pobres para os ricos” Os Estados Unidos financiam-se dessa forma com 2 mil milhões de dólares por dia dos países mais pobres. “ (…) Historicamente, as reservas eram detidas na forma de ouro e há comunidades que ainda hoje o fazem. Porém, virtualmente, todas as reservas são hoje constituídas por activos assentes no dólar, por vezes pelos próprios dólares, mas mais provavelmente em títulos do Tesouro Americano, que podem converter-se facilmente em dólares. (…)” Stiglitz analisa o preço escandalosamente alto que os países em desenvolvimento pagam por essas reservas. O raciocínio é o seguinte: "(...) a remuneração das reservas acima de 3 triliões de dólares é da ordem dos 1-2 por cento. Se o dinheiro não estivesse a ser aplicado nas reservas, se não estivesse a ser emprestado aos Estados Unidos a um retorno tão baixo, poderia ter sido investido nesses outros projectos, ganhando cerca de 10-15 por cento. A diferença entre as taxas de juro pode ser vista como o custo das reservas. (…) Se usarmos uma estimativa conservadora de 10 por cento como a percentagem média da diferença entre as duas, os custos reais de detenção de reservas representam algo superior a 300 mil milhões de dólares por ano aos países em desenvolvimento, o que é uma enormidade. Vejamos esta situação em perspectiva: representa três vezes o nível de assistência estrangeira de todo o mundo. Representa mais de 2 por cento do PIB combinado de todos os países em desenvolvimento; corresponde, aproximadamente, ao que se estima que sejam as necessidades dos países em desenvolvimento para alcançar os Objectivos do Desenvolvimento do Milénio, incluindo a redução da pobreza para metade. (…)” Stiglitz propõe um novo sistema de reservas global baseada numa proposta de Keynes: "a comunidade internacional pode proporcionar uma nova forma de dinheiro fiduciário para funcionar como reservas. Os países do mundo concordariam em cambiar o dinheiro fiduciário – chamemos-lhe “greenbacks globais” ou notas verdes globais” – pela sua própria moeda, por exemplo numa altura de crise.” Stiglitz conclui este capítulo com a afirmação de que "os problemas do sistema financeiro global são sistémicos e têm muito a ver com o sistema de reservas global. O mundo já está a transferir-se do sistema do dólar, mas isso não significa que esteja a trasnferir-se para um sistema melhor e, infelizmente, não se tem reflectido muito quanto à direcção em que está a seguir nem no sentido em que deveria evoluir. Esta iniciativa (...) aumentaria a estabilidade global e a equidade global. Não é uma ideia nova, mas é uma ideia para a qual terá chegado a hora."
As empresas, sobretudo as empresas multinacionais, estão no centro da globalização e são normalmente acusadas de muitas das suas enfermidades. Para Stiglitz a “questão a colocar é a de saber o que deve ser feito para minimizar os seus malefícios e maximizar o seu contributo líquido para a sociedade” O autor critica a perspectiva, muita vezes dominante entre os economistas, de que a primeira e única responsabilidade das empresas é para com os seus accionistas. Para melhorar o contributo das empresas, para tornar eficaz a globalização, Stiglitz aponta os seguintes caminhos: 1) aumentar a responsabilidade social das empresas. “Cada vez mais firmas vêem a responsabilidade social das empresas (SER) como uma questão de boa prática empresarial e em muitas delas os executivos e os empregados consideram que esta responsabilidade social é tanto um valor moral como um valor económico. (…)” No entanto “ (…) todas as empresas, mesmo as mais poluidoras e as que têm os piores registos laborais, contratam firmas de relações públicas que divulguem elogiosamente o seu sentido de responsabilidade empresarial e a sua preocupação com o meio ambiente e os direitos dos trabalhadores. Tornaram-se adeptas da manipulação da imagem e aprenderam a falar a favor da responsabilidade social, mesmo quando fogem dela.(…)”; 2) limitar o poder das empresas. Stiglitz quer actuações eficazes que permitam atacar os monopólios e a cartelização. Critica o facto de não existir uma abordagem global para este problema mas sim uma abordagem fraccionada, em que cada país vela pelos seus próprios cidadãos; 3) Melhorar a governança empresarial. O que aqui se propõe é a alteração das leis que governam as empresas e que as colocam a coberto dos prejuízos que provocam. Em particular a lei da responsabilidade limitada é questionada; 4) Leis globais para uma economia global. Um conjunto de leis globais que forneçam o enquadramento legal internacional aplicado por tribunais internacionais que são “tão necessários para o bom funcionamento da economia global como os tribunais federais e as leis nacionais o são para as economias nacionais.”; 5) Reduzir o âmbito da corrupção. Partindo do reconhecimento do “efeito corrosivo da corrupção e da necessidade de atacá-la tanto do lado da procura como da oferta” são abordadas questões como os subornos, o sigilo bancário. Sobre esta questão Stiglitz escreve que:“ (…) o sigilo bancário agrava os problemas da corrupção, oferecendo um santuário seguro para os ganhos de origem ilícita.”
No capítulo dedicado ao Ónus da Dívida o autor constata que a dívida dos países em desenvolvimento transforma-se em muitas situações num factor gerador de atraso e de crises profundas. Para Stiglitz o problema é fácil de equacionar: “os países em desenvolvimento contraem demasiados empréstimos – ou emprestam-lhes de mais – e de formas tais que se vêem obrigados a suportar a maior parte ou até a totalidade do risco dos aumentos subsequentes das taxas de juro, da flutuação cambial ou das diminuições dos rendimentos. Considerando tudo isto não admira que muitas vezes não consigam devolver o que devem. (…)” A solução passa por um conjunto de medidas das quais se destaca a necessidade de aliviar a dívida dos mais pobres prosseguindo o caminho aberto com a iniciativa do Jubileu 2000. No entanto existe a necessidade de diminuir a instabilidade do sistema financeiro internacional e daí a necessidade de “Reformar o Sistema Global de Reservas”. A tese defendida por Stiglitz é a de que o actual sistema de reservas permite fazer com que o dinheiro “corra escada acima, dos pobres para os ricos” Os Estados Unidos financiam-se dessa forma com 2 mil milhões de dólares por dia dos países mais pobres. “ (…) Historicamente, as reservas eram detidas na forma de ouro e há comunidades que ainda hoje o fazem. Porém, virtualmente, todas as reservas são hoje constituídas por activos assentes no dólar, por vezes pelos próprios dólares, mas mais provavelmente em títulos do Tesouro Americano, que podem converter-se facilmente em dólares. (…)” Stiglitz analisa o preço escandalosamente alto que os países em desenvolvimento pagam por essas reservas. O raciocínio é o seguinte: "(...) a remuneração das reservas acima de 3 triliões de dólares é da ordem dos 1-2 por cento. Se o dinheiro não estivesse a ser aplicado nas reservas, se não estivesse a ser emprestado aos Estados Unidos a um retorno tão baixo, poderia ter sido investido nesses outros projectos, ganhando cerca de 10-15 por cento. A diferença entre as taxas de juro pode ser vista como o custo das reservas. (…) Se usarmos uma estimativa conservadora de 10 por cento como a percentagem média da diferença entre as duas, os custos reais de detenção de reservas representam algo superior a 300 mil milhões de dólares por ano aos países em desenvolvimento, o que é uma enormidade. Vejamos esta situação em perspectiva: representa três vezes o nível de assistência estrangeira de todo o mundo. Representa mais de 2 por cento do PIB combinado de todos os países em desenvolvimento; corresponde, aproximadamente, ao que se estima que sejam as necessidades dos países em desenvolvimento para alcançar os Objectivos do Desenvolvimento do Milénio, incluindo a redução da pobreza para metade. (…)” Stiglitz propõe um novo sistema de reservas global baseada numa proposta de Keynes: "a comunidade internacional pode proporcionar uma nova forma de dinheiro fiduciário para funcionar como reservas. Os países do mundo concordariam em cambiar o dinheiro fiduciário – chamemos-lhe “greenbacks globais” ou notas verdes globais” – pela sua própria moeda, por exemplo numa altura de crise.” Stiglitz conclui este capítulo com a afirmação de que "os problemas do sistema financeiro global são sistémicos e têm muito a ver com o sistema de reservas global. O mundo já está a transferir-se do sistema do dólar, mas isso não significa que esteja a trasnferir-se para um sistema melhor e, infelizmente, não se tem reflectido muito quanto à direcção em que está a seguir nem no sentido em que deveria evoluir. Esta iniciativa (...) aumentaria a estabilidade global e a equidade global. Não é uma ideia nova, mas é uma ideia para a qual terá chegado a hora."
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