Na edição de Abril do "Le Monde Diplomatique", edição portuguesa, saliento uma excelente análise de Jorge Bateira, com o título em epígrafe, sobre a estratégia reformista deste Governo através da abordagem de "quatro tópicos que [no entender do autor]constituem pressupostos estruturantes do discurso e da acção do actual governo: a psicologia humana, a organização da sociedade, o lugar do Estado e o papel das políticas públicas na priomoção da mudança(...)"
Cito: (..) O discurso do combate às corporações assume que a racionalidade humana é predominantemente egoísta, um pressuposto essencial ao pensamento neoliberal. Por isso, o seu discurso veícula a ideia de que o comportamento oportunista domina as organizações.(...) O discurso do combate às corporações assume que a sociedade é dominada por grupos de interesses particulares que disputam os recursos do país, e ao mesmo tempo vê cada grupo como uma soma de individuos, todos procurando obter benefícios pessoais dando o menos possível ao grupo. Em linha com o pensamento neoliberal e o seu individualismo metodológico, aquele discurso ignora a natureza intrinsecamente relacional do ser humano tomando as pessoas como átomos sociais.(...) O discurso do combate às corporações assume que o Estado se encontra no vértice da sociedade, num lugar priveligiado que permite obter a visão mais informada sobre o que está mal e lhe confere o poder de conduzir reformas (cujos efeitos interessam ao conjunto da sociedade) segundo processos de comando e controlo que regra geral se revelam profundamente inadequados (...) O discurso do combate às corporações assume um modelo de políticas públicas de causalidade linear: a concepção cabe ao governo que dá orientações e ordens à administração pública, competindo a esta última a execução.(...)"
O autor entende que esta experiência governativa do PS está na origem do desânimo que domina a sociedade portuguesa e que, ao mesmo tempo, ela cria "uma obrigação, a de construir uma agenda reformista que mobilize o país para os desafios que tem pela frente."
Cito ainda um outro trabalho muito interessante, do jornalista Philippe Rivière, cujo títitulo é "Os sul-africanos reclamam um tecto", que nos dá conta da forma como, tantos anos depois do fim do apartheid, as desigualdades sociais continuam abissais e milhões de sul-africanos permanecem sem acesso a alguns direitos básicos como habitação, água potável, electricidade, escola pública e tantos outros serviços essenciais. Em paralelo floresce a corrupção e o novo-riquismo.
Destaque ainda para um artigo de Mário Soares cujo título é "Mudança de ciclo" em que o ex-presidente partindo de um diagnóstico pessimista do estado do mundo aponta as eleições americanas como um dos momentos chave para uma mudança de ciclo, defendendo que Barak Obama é o mais qualificado para fazer as mudanças que urgem. Mas salienta igualmente o papel das eleições europeias de 2009 lamentando a qualidade, baixa, da generalidade dos políticos europeus. "(...) Os actuais políticos europeus, com algumas poucas excepções, parece que ainda não compreenderam que na Europa também são precisas rupturas radicais, em consonância com as aspirações sociais e ambientais dos eleitores europeus e as Grandes Causas que hoje preocupam os jovens e os adultos, mulheres e homens. Quarenta anos depois de Maio de 68, está na hora de os jovens europeus voltarem a lutar por um mundo mais justo, solidário e melhor."
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