A pequena entrevista do presidente da autarquia de Sines na SIC Notícias foi fracota. A única novidade foi a moderação usada por Manuel Coelho depois da aspereza dos últimos dias. As críticas ao partido, ao seu controleirismo e prepotência, foram atenuadas e sobretudo o pesado jargão pseudo-ideológico dos primeiros momentos foi quase dispensado na argumentação utilizada. Quem vota são as pessoas e Manuel Coelho sabe, ou alguém lhe disse, que quanto mais bater "no seu PCP" mais votos perde e mais inimigos conquista não sendo certo que o "saldo" da operação se revele positivo.
Claro que o actual presidente se vai recandidatar. Para lá do discurso apatetado das trituradoras máquinas partidárias existem divergências políticas reais que tornavam improvável a recanditura de Manuel Coelho pela CDU, sendo certo que isso choca frontalmente com a decisão tomada, desde há muito, pelo próprio, de se recandidatar. O actual presidente da Câmara de Sines habituou-se ao cargo e às suas inerências. É a sua vida e não se imagina a fazer outra coisa. Só a previsão de uma derrota humilhante o faria recuar e mesmo assim tinha que ser uma evidência muito grande que o homem é dado a visões mas de carácter benigno.
A resposta à pergunta sobre se se iria recandidatar foi a confirmação da sua intenção. Mas quem leu as declarações iniciais pós-separação e as referências ao desejo de se sentir livre para concretizar o seu projecto político e a sua visão das coisas, não pode ter ficado com dúvidas.
No argumenário utilizado Manuel Coelho referiu os resultados obtidos por si como comprovativo da justeza da sua posição e da aceitação do "seu projecto". Ignorou duas coisas fundamentais: Manuel Coelho candidatou-se pela CDU que detinha a maioria absoluta desde o 25 de Abril; A sua sucessiva reeleição só foi possível pelo apoio da máquina do partido. Aliás, sem o apoio e o envolvimento dessa máquina nunca teria ganho a primeira eleição e não me parece liquído que tivesse sido reeleito na primeira vez.
Por isso não fica bem escutar as suas declarações que, com a necessidade de se afastar do projecto reaccionáio, estalinista e etc que ele agora descobriu , apontam para um tipo de candidatura unipessoal que em boa verdade não existiu, embora a forma de exercer o poder tenha sido direccionada nesse rumo e nesse desvario, com culpas bastas do próprio partido que o sustentou. Contabilizem-se, a este propósito, as vezes em que na entrevista se referiu ao dever de lealdade para com o Presidente. O "projecto" e a "visão" do autarca evoluíram, passe o despropósito, no sentido de um poder autoritário, avesso à participação das oposições, sistematicamente causticadas na sua linguagem muitas vezes trauliteira, e das populações divididos had nauseum entre os que o apoiam e os outros, apoiado uma pequena nomenklatura pseudo-tecnocrática, confundindo ideias e interesses pessoais com interesse público e confundindo uma visão obreirista da gestão municipal com um projecto de desenvolvimento local moderno e de esquerda, assim como quem confunde a beira das estrada com a Estrada da Beira.
Nada que não se encontre noutros lados neste triste poder local caciquista em que o exercício e o usufruto do poder homogeneiza os conteúdos dos seus protagonistas. Revisitem-se os discursos de alguns protagonistas mais mediatizados, alguns pelas piores razões, que exercendo o poder autárquico romperam com os seus partidos e compare-se com o nosso homem, salvo seja. Lá está o povo omnipresente que os elegeu a ser afinal o alfa e o ómega de tudo o que se passa : por ele se candidataram, por ele foram eleitos a ele se destina, tudo aquilo que fazem todos os dias.
Grande povo com as costas tão largas e uma quase infinita capacidade de carga. Felizmente a história diz-nos que há sempre um momento em que a malta arreia.


 

Pedra do Homem, 2007



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