Foi desta forma que Manuel Coelho, o presidente da Câmara de Sines, reagiu às críticas da bancada da CDU na Assembleia Municipal que o acusava de estar a usurpar um lugar que tinha obtido integrado numa candidatura da CDU, com o trabalho e o esforço dos militantes e simpatizantes da CDU. Referia-se o autarca desavindo ao para ele expectável resultado das próximas eleições autárquicas em que vai participar sob uma outra forma, ainda provavelmente em negociações, mas antecipando já uma confortável vitória: candidato independente ou utilizando um partido-hospedeiro sendo indiferente , a julgar pelos contactos, o PS ou o PSD.
Antes, quando da glorificação da "obra realizada" e dos "projectos estruturantes para Sines" dois clichês que susbistem do passado recente em que, a julgar pelas declarações do próprio, a exposição aos métodos estalinistas pode ter provocado algumas sequelas, Manuel Coelho tinha, exultante com a narrativa que construiu sobre a realidade, anunciado que esperava "estar cá" no futuro próximo para continuar e concluir a "obra".
Nada de extraordinário se pensarmos em declarações recentes sobre a sua ainda, supostamente, não decidida recandidatura no futuro acto eleitoral.
Mas, apesar das declarações mais ou menos gongóricas sobre a realidade, a verdade é que o passeio que alguns antevêm em passo de corrida para a reeleição, não se apresenta assim tão fácil. Para já os apoios - apesar da máquina da Câmara, melhor para a logística mas menos relevante em termos de peso político, do PS, entusiásticos ao nível distrital com a sua maior expressão no comunicado assinado por um Vítor Ramalho com o gorro de Pai Natal enfiado na cabeça, renitentes ao nível local (face às tendências estalinistas do passado recente do autarca?) embora isso ainda se possa compor, passando pelo PSD, ao que se sabe traduzido numa recusa de apoio por a "oferta" ter sido extemporânea - são escassos e a vaga de fundo, o tal tsunami sobre o qual alguns ficcionaram, não terá passado de uma pequena onda de rés-de-maré, coisa para encher meio balde de água daqueles não muito grandes.
O que fica para já é a oposição da CDU empenhada e militante, que se traduziu ontem na Assembleia Municipal na apresentação de uma longa "Declaração Política" em que se apela à demissão dos autarcas dissidentes , argumentando que "quem venceu as eleições em 2005 foi a CDU e que os autarcas foram eleitos pelos votos, pelo programa, pela campanha, pelo capital político eleitoral que apenas pertence à CDU. Quer política, quer moralmente, devem devolver os cargos à força política que os conquistou. Não foram eleitos em nenhuma lista de cidadãos independentes. Demitam-se."
Depois, facto político muito relevante, a possível proliferação de candidaturas num número pouco usual, criará condições para uma maior divisão dos votos. Mais que não seja pela natural divisão da candidatura da CDU em duas, embora uma delas possa recompor a sua base social de apoio, mas isso acarretará sempre ganhos e ... perdas.
Pois é, apesar dos contornos muitas vezes semelhantes, a história raramente se repete.


 

Pedra do Homem, 2007



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