A habitual crónica de Vasco Pulido Valente no Público.
«O dr. António Borges, vice-presidente do PSD, tem uma grande preocupação política: não quer uma eleição geral antecipada. E tem um grande medo: que, de uma maneira ou de outra, o caso Freeport provoque uma eleição geral antecipada. Com este alto objectivo em mente, declarou ontem numa entrevista a este jornal que Sócrates fala verdade e que é nossa estrita obrigação acreditar nele. E declarou mais: declarou que mesmo que Sócrates não falasse verdade e “as suspeitas se agravassem”, a “governabilidade” não ficava “em causa”. E declarou pior: declarou que, se as coisas chegassem a uma situação insustentável, o Presidente da República não devia dissolver a Assembleia e convocar eleições. Devia, como quando o dr. Barroso fugiu para Bruxelas, fazer o que Sampaio fez: chamar outro PS.
Para a dra. Ferreira Leite, o primeiro-ministro é o "coveiro do país". Para o dr. Borges também, como ele abundantemente já explicou. Para a dra. Ferreira Leite a política de Sócrates só serve para comprometer o futuro e assanhar a crise. Para o dr. Borges, Portugal precisa de uma "política exactamente ao contrário" da política de Sócrates. Para a dra. Ferreira Leite, cada hora, cada minuto que se perde diminui a eficácia duma eventual solução. Para o dr. Borges, Sócates continua imperturbável a "afundar o barco". Mas nem o dr. Borges, nem (presumivelmente) a dra. Ferreira Leite querem reduzir o sofrimento dos pobres portugueses com uma eleição antecipada. Isso de maneira nenhuma! Isso nunca! O PSD insiste que a legislatura vá até ao fim, que os prazos se cumpram escrupulosamente.
Porquê? Porque, no fundo da sua alma democrática, o PSD está à espera que o caso Freeport o leve de graça a um poder que não merece. E, do ponto de vista dele, quanto mais tempo esse “caso” durar e mais peripécias forem aparecendo, mais Sócrates sofre e o eleitorado esquece a real miséria do PSD. Embora lamentando a triste sorte do indígena, tão mal entregue à incompetência e aos preconceitos do PS, nada melhor para o dr. Borges (e a dra. Ferreira Leite) do que uma longa e dura liquidação de Sócrates. Ou do que a liquidação de Sócrates, primeiro, e a seguir do seu eventual substituto. Claro que há um risco nesta doce manobra: o risco de Sócrates sair antes de Outubro, limpo e fresco, da embrulhada Freeport. Mas manifestamente o PSD não conta com essa aberrante variação dos costumes da Pátria.»
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