Na cidade de Sines, como em muitas outras, sucessivas gerações de toxicodependentes assentaram praça nalguns locais públicos onde se dedicam a pedir alguns cêntimos ou euros para conseguirem dar resposta às suas necessidades impostas pelo vicio que os consome. São os pedintes pobres para quem o acto de pedir é sobretudo uma questão de sobrevivência.
Mas por estes dias há quem ocupe o espaço público para pedir. Não se trata de pedir euros ou cêntimos, já que para os padrões correntes estamos perante pessoas ricamente dotadas de recursos financeiros, mas sim votos. Neste particular o ainda Presidente da Câmara de Sines destaca-se na função. Dotado de uma elevada mobilidade está em todo o lado, o que o diferencia daqueles que pedem em sítio próprio, não deixando ninguém livre da sua presença. Logo que chega a um qualquer local onde nidifique a sua espécie favorita, eleitores, depois de seleccionar/hierarquizar os seus alvos inicia o ritual. Depois de uma singela troca de palavras ao estilo "então está tudo bem", "ainda não morreu mais ninguém na família?", dispara com toda a naturalidade do mundo: "claro que vão votar em mim nas próximas eleições?!!!", "sabem que já não sou estalinista, aliás nunca fui desde pequenino, sou até muito amigo do Sócrates, e tenho a obra para acabar?", "é uma obra muito importante para Sines!!!".
As perguntas não admitem, pelo tom, outra resposta que não seja a afirmativa. Não se trata na verdade de perguntas, estamos perante uma orientação de voto fornecida de forma gratuita e desinteressada, um verdadeiro suplício público, perdão, serviço público.


 

Pedra do Homem, 2007



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