"Sampaio considera que pode ser necessário um Governo de Bloco Central".
O Bloco Central terá méritos, que eu por ignorância não consigo descortinar, mas parece indiscutível que terá grandes deméritos e poderiamos pensar , face aos tempos que passam, numa elevada improbabilidade de se concretizar. Afinal, é ou não é verdade que o PSD e o PS apresentam nesta altura divergências quase irreconciliáveis sobre o caminho para sair da crise?
A declaração de Jorge Sampaio parece ignorar aquilo que ele próprio já disse sobre as causas da crise que se abateu sobre o mundo e, em particular, sobre Portugal.
Bastaria recordar o que ele escreveu no prefácio à edição portuguesa do livro do professor Stiglitz, "os Loucos anos 90. A década mais próspera do mundo", sobre a contradição entre as opções de controlo do défice público e a necessidade de estimular o crescimento económico com o recurso ao investimento público. Cito: "(...) A análise da redução do défice orçamental americano na década de 90 é importante para os países da Zona Euro, cujas políticas orçamentais têm estado condicionadas pelo Pacto de Estabilidade, subjacentemente, pelo mito de que a austeridade orçamental, especialmente pela diminuição das despesas públicas, aumentaria a confiança dos agentes económicos e o crescimentoda economia viria por acréscimo. Seria bom, mas não é inteiramente verdade. A amarga experiência económica dos últimos anos, na Zona Euro e em Portugal, mostra que as coisas não se passaram assim (...)"
Passados seis anos desde que estas sábias palavras foram escritas podemos crescentar: As coisas não se passaram nada assim, dramaticamente.


 

Pedra do Homem, 2007



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