Ana Gomes acusa Santana Lopes de "parolice", despesismo e "provincianismo abjecto"
E que outras acusações poderá Ana Gomes fazer? Como classificará ela João Soares e a sua manifesta admiração para Renzo Piano, com a consequente urbanização da Fábrica de Braço de Prata? Ou a simpatia que todos sentem, uns mais do que os outros é verdade, pelas Torres de Normam Foster? Ou a baboseira nacional em volta da Estação do Oriente, talvez a mais lamentável obra de Calatrava e logo nos havia de ter calhado a nós, tão contentinhos, mesmo quando nos vendem gato por lebre. E já agora não foi António Costa, o seu querido camarada, que manifestou a vontade de ter grandes arquitectos de todos os continentes ou culturas com uma obra em Lisboa, de preferência sempre à Beira-Tejo - isto digo eu - que esta coisa de podermos olhar o rio é um exagero a que não devemos ter direito por muito mais tempo.
Na verdade serem os arquitectos nacionais ou estrangeiros a fazerem os projectos não muda nada. O que muda muita coisa, e muda para pior, é o facto de a arquitectura dos arquitectos famosos ser instrumental da vontade de mudar as cidades ao arrepio das formas democráticas de o fazer. Estabelecendo a confusão entre o projecto e o plano, valorizando o projecto arquitectónico como legitimador da desvalorização do Plano, retirando o futuro da cidade do debate democrático a que ela se devia subordinar e que encontra no planeamento urbanístico e no debate urbanístico o campo por excelência para se manifestar.
O que mudaria muita coisa, e mudaria para melhor, seria que o Projecto fosse precedido do Plano e que quer o Plano que o Projecto fossem atribuídos, sem excepção, por concurso à revelia das amizades dos autarcas e da cagança que os tenha irremediavelmente atacado.
Talvez a drª Ana Gomes, algures entre Sintra e Bruxelas, possa ter algum tempo para pensar nestas coisas, um pouco mais fundo do que o agitprop exige.


 

Pedra do Homem, 2007



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