Só 29 dos actuais 308 presidentes de câmara não se recandidatam
A notícia confirma aquilo que já se sabe: no poder local os Presidentes de Cãmara permanecem no cargo quase enquanto quiserem. A conclusão óbvia seria a de que, neste sector específico da actividade política, a qualidade do trabalho realizado seria pouco menos do que insuperável. Pura ficção. Estamos no campo puro e duro do caciquismo. Quem chega ao poder dificilmente de lá sai porque estabelece um poder pessoal sobre todos os mecanismos que afectam directa ou indirectamente a reeleição. Não há eleições em que o detentor do cargo político tenha tantas vantagens sobre os demais concorrentes como as autárquicas. Controlo da máquina da auatarquia, incluindo os recursos da mais variada ordem, controlo da débil e servil imprensa local, controlo dos sectores do negócio ligados ao imobiliário, habituais financiadores das campanhas autárquicas de quem está no poder, etc.
O fraco, para não dizer inexistente, controlo democrático do exercício do poder executivo leva a que tudo seja possível incluindo uma extrema pessoalização do poder municipal. A Câmara Municipal é, em regra, o umbigo do Presidente e um limitado círculo aí centrado no qual só têm lugar aqueles que fazem da obediência servil a sua regra.
Suponho que o PS e o PSD alterarão a lei que impede a reeleição, a partir de 2013, de autarcas com mais de 3 mandatos exercidos. O apelo dos caciques é intenso e alguns autarcas criaram raízes profundas no cargo que se disseminam por dentro das frágeis estruturas partidárias que secam e controlam. Trata-se de um processo de natureza cancerigena e, como sabemos, ainda não há cura para o cancro. Quando isso, por alguma razão, não acontece e os partidos promovem a renovação o autarca, na iminência de ser afastado, passa a independente com um qualquer "discurso de suporte político" para a sua decisão. O caso mais recente é o do autarca de Sines que descobriu, convenientemente, que nunca tinha sido estalinista e que o seu partido ao longo de 30 anos era estalinista que se fartava. Convivência incompatível, como se compreende. Quem é que quer ser afastado de um poder cujos mecanismos de controlo domina depois de o ter aperfeiçoado ao longo de 12 anos?
O que é inovador nesta notícia é a informação de que nalguns casos o pai é sucedido pelo filho. Ora, aqui está uma inovação. Talvez possa ser por esta via que, pouco a pouco, se vá restaurando a monarquia sem necessidade dos betinhos andarem a escalar as fachadas dos edificios municipais.

PS - declaração de interesses - sou candidato independentre pelo BE à Câmara de Sines da qual fui vereador, sem pelouros atribuídos, vulgo vereador da oposição, entre 1993 e 2001, eleito nas listas do PS, cuja candidatura liderei nas duas eleições.


 

Pedra do Homem, 2007



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