Salvar o Planeta.

No capítulo cujo título é “Salvar o Planeta”, Stiglitz volta ao tema dos “bens comuns” já abordado no capítulo dedicado às “Patentes, Lucros e Pessoas” para, a propósito da questão ambiental, reflectir sobre a “tragédia dos bens comuns”.
Os problemas ambientais são muito específicos no contexto dos restantes problemas da globalização já que, contrariamente a todos os outros, eles afectam tanto os países desenvolvidos como os países em desenvolvimento. A preservação dos bens comuns historicamente resolveu-se impondo regras e restrições à sua utilização. A forma escolhida foi de duas naturezas: pelo controlo social ou pela privatização. O controlo social feito pela intervenção do Estado faz-se sempre que se trata de bens globais como as pescas ou o ambiente. Stiglitz escreve que: “Num país, os problemas dos bens comuns podem, por vezes ser tratados, ainda que imperfeitamente, através da privatização. Para remediar o problema dos bens comuns, no entanto, ninguém, com seriedade, propõe a opção da privatização. O único remédio sensato e viável será algum conjunto de regulamentações globais sobre a sua utilização e sobre as acções que causam externalidades globais (…)
Para o autor a questão do aquecimento global é a mais global de todas as questões: “Todos partilhamos a mesma atmosfera”. Stiglitz enumera os 7 factos incontroversos que dizem respeito ao aquecimento global: "1) o mundo está a aquecer cerca de 0,6ºC no último século; 2) até as pequenas diferenças d temperatura podem ter efeitos importantes; 3) esta taxa de aquecimento não tem precedentes, mesmo que recuemos milhões de anos; 4) os níveis do mar estão a subir – cerca de quatro a seis polegadas no último século; 5) até as pequenas alterações no nível do mar podem ter efeitos importantes – por exemplo uma subida de um metro inundaria as áreas baixas de todo o mundo da Florida ao Bangladeche; 6) têm ocorrido aumentos extraordinários dos gases de estufa na nossa atmosfera (…) e que tem vindo a aumentar ao ritmo mais rápido dos últimos 20.000 anos; 7) é possível que venha a acelerar-se o ritmo de alterações na temperatura, com pequenos aumentos da concentração dos gases de estufa, que provocam alterações climáticas mais importantes do que as verificadas no passado recente (…)”
Sendo necessária uma acção global para enfrentar este problema do aquecimento global o autor refere, com optimismo, outros exemplos em que o mundo soube lidar com ameaças planetárias: a convenção Internacional para a regulação da baleação, assinada em 1964 e em 1987, a Convenção de Montreal, relativa à retirada dos gases de clorofluorcarbono (CFC).
O autor revisita de seguida a Declaração do Rio, o Protocolo de Quioto, para apontar três metas, cuja aplicação prática analisa detalhadamente, que podem permitir tornar eficaz o combate: todos os países devem ser incluídos (“para fazer com que os Estados Unidos entrem, tem de fazer-se com que os países em desenvolvimento também sejam incluídos”), devem-se encontrar mecanismos que permitam garantir o cumprimento das metas e em terceiro devemos conseguir baixar os custos da redução das emissões.
Stiglitz questiona o principio básico do Protocolo de Quioto: “o principio básico do Protocolo de Quioto – metas baseadas em reduções dos níveis de 1990 – não faz sentido para os países em desenvolvimento. Estes, naturalmente, perguntam: “que direito têm os países desenvolvidos a poluir mais do que nós, só por terem poluído mais no passado, só têm é de poluir menos no futuro.(…) O Estados Unidos - que poluem sete vezes mais do que a China, neste momento, e doze vezes mais do que todo o Mundo em desenvolvimento – continuam intransigentes, e os países em desenvolvimento não conseguem ver uma boa razão para sacrificarem os seus rendimentos e crescimento para ajudarem os americanos.” Uma das propostas do autor é a “Iniciativa das Florestas Tropicais”. Questionando a eficácia de um filosofia apenas centrada na redução das emissões propõe um modelo complementar com um grande enfoque na remoção e armazenamento do dióxido de carbono. Para isso a florestas tropicais são uma arma incomparável. “ Os 2,7 mil milhões de pessoas que vivem nos mais de sessenta países em desenvolvimento que albergam estas florestas tropicais não estão a ser compensadas pelos serviços extraordinariamente valiosos que prestam ao ambiente. As florestas tropicais não só reduzem o nível e carbono na atmosfera como ajudam a preservar a biodiversidade.(…) Uma compensação seria não só justa como ajudaria estas economias dos países que têm florestas tropicais: proporcionar incentivos para que estes países possam preservar as suas florestas seria um benefício ambiental enorme para todos.”
Stiglitz acaba com mais uma profissão de fé nas potencialidades da globalização e na nossa capacidade para mudarmos o rumo: “ No rescaldo do tsunami do Natal de 2004, muito se discutiu sobre a importância de ter um sistema de alerta prévio para que as pessoas possam reagir de modo a poderem evitar o desastre que vai dar-se a seguir. Estamos a ter alertas prévios muito claros quanto ao aquecimento global. Mas ainda temos de reagir.”


 

Pedra do Homem, 2007



View My Stats