Democratizar a Globalização
Stiglitz ocupa a quase totalidade do livro a tratar da economia da globalização mas reconhece que “a reforma da globalização é uma questão política”. Por isso dedica o último capítulo do livro cujo título é “Democratizar a Globalização” a tratar de algumas questões políticas da maior importância.
O autor elege o combate ao défice democrático como a principal necessidade para permitir gerir melhor a globalização. Tem existido um défice no desenvolvimento das instituições políticas democráticas que são necessárias para garantir que a globalização seja mais justa. Esta falta de estruturas democráticas não tem permitido moderar os seus excessos. Assiste-se a uma “despolitização do processo da tomada de decisão” que abre “caminho a decisões que não são representativas de interesses sociais mais alargados. Ao retirar as decisões sobre o correcto regime comercial ou sobre o correcto regime de propriedade intelectual do processo político aberto, está a abrir-se a porta a que essas decisões sejam moldadas clandestinamente pelos interesses especiais.”
Um dos exemplos desta situação referido pelo autor é o da política monetária que interessa particularmente à Europa. Escreve Stiglitz: “(…) Nenhuma questão económica afecta tanto as pessoas do que o desempenho macroeconómico da economia. O aumento da taxa de desemprego coloca os trabalhadores em pior situação mas a inflação menor daí resultante torna felizes os que detêm títulos. O equilíbrio destes interesses é, em termos de quinta-essência, uma actividade política, mas tem havido a tentativa, por parte de quantos estão nos mercados financeiros, de despolitizar a decisão, de a entregar aos tecnocratas, com um mandato para prosseguirem as políticas que são no interesse dos mercados financeiros. O FMI tem vindo a encorajar, por vezes mesmo a obrigar (com condição para a assistência), os países a terem os seus bancos centrais concentrados apenas na inflação.
A Europa sucumbiu a estas doutrinas. Hoje, por toda a Eurolândia, cresce a infelicidade, pois o Banco Central Europeu prossegue uma política monetária que, apesar de fazer maravilhas para os mercados de títulos ao manter a inflação baixa e os preços dos títulos altos, deixou de rastos o crescimento e o emprego na Europa.” (Eis aqui algo que muitos dos defensores da actual situação política e da inevitabilidade do combate ao défice pela via seguida deviam ler com muita atenção). O combate ao défice democrático é pois uma das prioridade das actuação política e isso passa pela reforma das instituições internacionais como o FMI que é analisada com detalhe pelo autor não só a reforma da sua estrutura eleitoral mas também uma importante reforma na sua forma de operar. Para o autor é claro que para que a globalização resulte é necessário que encontremos um “ regime económico internacional, no qual haja um maior equilíbrio entre o bem-estar dos países desenvolvidos e países em desenvolvimento: um novo contrato social global entre países desenvolvidos e menos desenvolvidos." O livro é uma reflexão crua sobre os malefícios da globalização, suportada por um conhecimento profundo da economia mundial mas é também um manifesto optimista sobre as suas potencialidades, assim exista vontade de mudar aquilo que está mal. Por isso Stiglitz acaba com este parágrafo: “Não tem que ser assim. Podemos fazer com que a globalização resulte, não só para os ricos e poderosos, mas também para todas as pessoas, incluindo aquelas que vivem, nos países, mais pobres do mundo. A tarefa será longa e difícil. Já esperámos tempo de mais. A Hora de começar é agora.”
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