Helena Matos detecta em Fernando Nobre, Presidente da AMI e mandatário nacional da candidatura do BE às Europeias, uma "fixação na Palestina" que "deve fazê-lo sonhar com explosões mas já começa ser um bocadinho obsessivo". Tudo isto porque Fernando Nobre considerou "socialmente explosivas" as situaçõe existentes em bairros sociais. A jornalista acha que a "peregrina ideia de que os desempregados às terças e quintas roubam Audis por carjacking e às quartas e sextas queimam os automóveis dos vizinhos é não só uma tonteria como uma tonteria ofensiva".
A menos das mesquinhas considerações sobre Fernando Nobre - que não beliscam a sua intervenção - o que importa referir é que a direita é assim mesmo: recusa a dimensão social da violência urbana, recusando as razões de natureza social dessa mesma violência. O problema são os violentos que fizeram em determinada altura a opção errada. A solução estará na adopção de políticas que permitam resolver o problema com soluções do tipo "violência zero" que conduzem, como se sabe, à criminalização dos excluídos.

Recordo o que escreveu Jordi Borja a este propósito:
(...) No entanto as políticas de segurança citadina, por um lado só muito parcialmente protegem o direito à justiça dos habitantes dos territórios mais marginalizados e por outro lado têm também efeitos muito perversos. Vamos destacar apenas três desses aspectos:
1 - O seu carácter classicista e racista. Criminalizam-se grupos e territórios como perigosos em termos absolutos. (...) Em certas cidades é suficiente ser jovem étnico e periférico para ser considerado pré-deliquente pelas forças da ordem.
2- A mitificação das políticas repressivas sobretudo “made in USA”. Apesar dos estudos recentes, inclusive comparando apenas cidades norte-americanas que praticam políticas distintas, demonstrarem que as políticas tipo “tolerância zero” criminalizam colectivos sociais e étnicos e nem sempre reduzem a insegurança urbana, ou pelo menos, não o fazem mais do que políticas sociais e culturais preventivas. A comparação entre Barcelona nos anos oitenta e a Londres conservadora, de então, demonstra a muito maior eficácia das políticas preventivas. Em Londres durante o governo Thatcher a delinquência urbana aumentou 50%, enquanto em Barcelona reduziu-se na mesma percentagem durante o mesmo período.
3- A incompreensão das dimensões especificamente urbanas da insegurança. Quando, por exemplo se combina um espaço periférico desestruturado, sem espaço público nem equipamentos de qualidade, no qual os jovens não trabalham nem estudam de dia, nem sabem onde ir à noite, se a isso se juntar a presença, entendida como provocadora, da polícia o que é que se pode esperar? (...)

Para quem quiser ler mais sobre as questões da violência urbana, a propósito da violência nos subúrbios em França no ano de 2005, pode ler aqui, ou aqui, ou aqui.



 

Pedra do Homem, 2007



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